Jesus veio ao mundo para nos ensinar que amássemos uns aos outros, respeitasse os nossos semelhantes e que buscássemos viver do suor do nosso trabalho, entre tantas outras coisas. Morreu por nós e o fez para que vivêssemos o amor em sua plenitude e para nos perdoar de todos os pecados. Mas em seu nome, o homem realizou perseguições, dizimou povos, travou guerras sangrentas e tem usado o mesmo nome para o enriquecimento imoral, baseado na esperteza e muitas vezes, na corrupção. O homem esquece facilmente o que e quem lhe fez o bem e quem muitas vezes, seguiu o exemplo de Jesus e deu sua vida pelo seu semelhante. Exemplo disso foi o povo de Israel, rumo à terra prometida, que era protegido pessoalmente por Deus, contra ele se rebelou muitas vezes.
Na nossa vida cotidiana, é o que mais se vê. Os ímpios sendo homenageados, enquanto os homens de bem são desprezados, caluniados ou renegados à marginalidade. Um bom exemplo disso é o que acontece com o Partido dos Trabalhadores em Casa Nova.
Fundado no município na década de 80, o PT de Casa Nova tinha sua composição apenas pessoas da área rural do município ou pessoas ligada à luta pelo direito à terra. Boa parte de seus filiados, tinham passado há poucos anos atrás, pela luta histórica contra a Agroindustrial Camaragibe, pelo direito a permanecer em suas terras. A outra parte era de pessoas que apoiaram essa luta e dela também fizeram parte, mesmo que indiretamente. Participaram também há pouco tempo, da luta pela tomada do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, para que os trabalhadores tivessem o direito de dirigir seu próprio sindicato, o que, infelizmente não aconteceu.
Sob a truculência da ditadura militar e dos governantes estaduais e municipais, o PT “comeu o pão que o diabo amassou”, em um período que até morte aconteceu em Casa Nova , em virtude da intolerância dos governantes e de seus aliados, em conviver com o contraditório.
Se no início da luta pela democratização do país existiam aliados, no município, a partir de 1986, com a debandada do grupo liderado pela então apenas empresária, Dagmar Nogueira, para apoiar ACM e sua trupe, o PT ficou isolado como partido de esquerda em Casa Nova. Pagou um alto preço por isso. A partir daí, o termo “Boca Preta”, já utilizado antes contra os oposicionistas do sistema, passou a ser ainda mais empregado e com um desprezo cada vez maior, contra os petistas. Aliado a isso, o termo “radical” era muito utilizada para se referir aos petistas, adjetivo que lhes era atribuído até pouco tempo.
Nas eleições municipais que se seguiram, O PT esteve sempre isolado. Com exceção das eleições de 1992, que fez uma aliança apenas na chapa proporcional, com o então PSDB e o PCdoB e, em 1992, que resolveu apoiar a candidatura de Dagmar Nogueira, o PT era tratado pela classe política e por grande parte da população, como um antigo leproso. Em 1992, na expectativa que a Sra. Dagmar rompesse com ACM, o partido teve autorização do Diretório Estadual para apoiá-la. E apesar do pleito vitorioso, o PT permaneceu no isolamento, com a continuidade da Prefeita no Carlismo. E durante muito tempo, esse foi o cenário de cada uma das eleições em Casa Nova : Nas eleições municipais, o PT sai sozinho contra todos. Nas eleições estaduais, podíamos contar então com a participação do PCdoB em nosso lado.
Enquanto isso, membros ou simpatizantes do PT eram perseguidos em hospitais, prefeitura, secretarias, em programas governamentais dos governos estaduais e federais e até mesmo, em seus trabalhos conquistados via concurso público, Um clássico exemplo disso foi a casanovense Maria da Glória da Silva Rocha, conhecida como “Glorinha” ou “Da Glória”, no Banco do Brasil. Apesar de ter ingressado em concurso público e de ser uma brilhante funcionária, ela não recebia promoções funcionais, por ser oposição ao sistema e simpatizante do PT. Do outro lado, ou melhor, dos outros lados, centenas de pessoas recebiam empregos para si e a família, privilegio no atendimento nos órgãos públicos e até mesmo no hospital, além da proteção ao cometerem crimes ou contravenções. Ao serem presos, logo vinha alguém poderoso para tirá-los de lá. E se o Delegado não obedecesse, podia se considerar demitido ou transferido.
E por que o PT, com seus filiados e simpatizantes, estava sempre isolado nas eleições municipais? Porque a luta do PT era por um país mais justo e mais humano para todos, principalmente para os que foram renegados ao abandono. Pelo acesso à terra, pelos direitos dos trabalhadores em ter um salário mais digno, contra a discriminação religiosa, de cor, de classe, de opção sexual e contra todo tipo de preconceito. E isso só seria possível se fossem derrotadas as forças conservadoras, que mantinham privilégios e tornavam os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, que mantinham o país numa submissão ao capital internacional e às grandes potências do mundo e que fechavam os olhos para as grandes mazelas que o país vivia, inclusive para a pior delas: a corrupção. E na Bahia, o maior representante dessas forças era Antônio Carlos Magalhães (ACM). Apoiar, portanto, prefeitos ligados ao Carlismo, era também, por tabela, fortalecer a continuidade de tanta coisa ruim, que o PT tanto combatia.
No meio do caminho, teve quem desistisse da luta. Mas outros foram chegando e se alaram aos que travavam numa luta desumana contra mais de 90% dos políticos, que por sua vez contavam com o apoio de um percentual ainda maior dos eleitores do município.
Pois bem, veio então 2002, e o grande sonho do PT governar nosso país, já podia ser realidade. O Brasil então mudou sua cara, começou a trilhar o caminho do desenvolvimento com justiça social, da atenção aos menos favorecidos, da melhoria de renda do trabalhador e da conquista do respeito internacional. Lula passou então a ser ovacionado em todos os lugares, em todos os países e o Brasil passou a ser referência no mundo, como exemplo de um país que cresce, promovendo a sustentabilidade. Em 2006, outro sonho realizado: Derrotamos o Carlismo e passamos a trazer para a Bahia, o mesmo espírito de governo que já norteava o país há 04 anos e elegemos Wagner Governador. E de lá para cá, o PT manteve-se no Governo Federal e no estadual.
Nosso país e nosso estado vivem hoje uma nova e feliz realidade. Não porque esteja tudo às mil maravilhas e porque se acabaram todos os problemas. Ainda existem mazelas sim: na saúde, na educação e em todas as áreas de governo. Mas em todas essas áreas, tanto em nível de estado como a nível nacional, todas essas mazelas são infinitamente menores do que a que vivíamos antes de 2002. E se naquela época vivíamos em completa descrença no futuro, hoje temos a certeza de que dias melhores virão. E mesmo que alguns tenham a percepção de que a corrupção aumentou no país, isso não é verdade. O que aumentou, sim, foram os mecanismos de controle da gestão pública e a seriedade das instituições de apurar e punir os desmandos contra o dinheiro do povo. Quem via antes nesse país serem presas personalidades importantes como os políticos, juízes, desembargadores, governadores e outros, pertencentes inclusive aos partidos da base do governo, como os que a Polícia Federal tem feito? Era um caso raro se ver um Prefeito ou Governador perder o mandato. Mas hoje isso acontece constantemente.
E tudo isso não aconteceu por acaso ou do dia para a noite. Para sairmos da ditadura militar, das oligarquias municipais, do Carlismo e do desastrado governo tucano, que entregou e dilapidou o patrimônio público brasileiro, muitas vidas foram ceifadas, muito sangue foi derramado por aqueles que defendiam a liberdade e a justiça. Muitos empregos deixaram de ser ocupados por quem merecia, para serem entregues aos protegidos do poder. Muitos filhos deixaram de ser cuidados devidamente, porque seus pais tinham um compromisso de lutar por um Brasil melhor e não podiam aceitar que poucos tivessem tanto e tantos tivessem quase nada. Muitos advogados, médicos, engenheiros deixaram de se formar, porque as universidades eram palco quase que exclusivos dos mais ricos. Muito dinheiro foi gasto por aqueles que apesar de não terem quase nada, tiravam do seu próprio bolso para ajudar a pagar as despesas das campanhas do PT, tanto do município, do estado e até mesmo nas eleições para Presidente. Era a luta do tostão contra o milhão, de David contra Golias.
Assim como no passado, o PT “fez das tripas, coração” para ajudar a viabilizar o seu projeto de governo para o país e para o Estado da Bahia, hoje a luta é para preservar e avançar nas conquistas realizadas. O PT é sim o principal responsável pela realização dessas conquistas, mas não governa o país sozinho e sim ao lado de uma série de partidos.
O PT tem, portanto, compromisso com seu passado de luta e age com coerência para ajudar a manter o Brasil e a Bahia rumo ao desenvolvimento pleno, com justiça social e a uma vida melhor para todos. E se antes a luta era para derrubar quem estava usando o poder para oprimir, a luta hoje é para manter quem está no poder para melhorar a vida do povo da Bahia e do Brasil. E mesmo que existam problemas no governo municipal, avanços também houve, principalmente, no que se refere às obras no interior do município, apoio ao homem do campo e as conquistas na área da saúde, inclusive o SAMU 192. Além do mais, as forças políticas que se opõem ao atual governo, em sua maioria, já estiveram no poder e nunca demonstraram pensar ou fazer diferente no trato da coisa pública. Neste caso, a militância do PT, e não uma “meia dúzia”, decidiu pelo apoio ao Prefeito Orlando Xavier, a fim de fortalecer no município as forças que apóiam as transformações em nosso país.
Hoje então surgem críticas e mais críticas sobre essa decisão. Algumas são lógicas e respeitáveis, já que cada um tem direito a opinar sobre o que é público. Outros usam de má fé e fazem acusações infundadas e sem provas, a fim de confundir a opinião pública.
O interessante é que boa parte desses críticos afirmam que o PT já foi sim um partido de luta em Casa Nova , mas que agora, segundo os mesmos, se entregou à corrupção. Outros tentam se enganar e enganar a população, dizendo que o Lula e a Dilma, sim, são maravilhosos, mas que o PT não presta. Em primeiro lugar, é preciso que se diga que o Lula e a Dilma são do PT e que as políticas públicas executadas por eles, em sua imensa maioria, são as que foram encampadas pelo PT e outros partidos de esquerda, bem como pelos movimentos sociais, ao longo de várias décadas. E em segundo lugar, é preciso se perguntar:
1. Onde estavam esses que reconhecem a história de luta do PT, quando o partido vivia no ostracismo político?
2. Se o PT “era um partido de luta”, porque essas pessoas, que hoje se dizem tão indignados com a corrupção no governo municipal, não estavam com o PT para que lutassem com ele por uma Casa Nova mais justa e humana? Tais perguntas são fáceis de responder, para quem conhece a história da política de Casa Nova, nos últimos trinta e poucos anos. Enquanto o PT era privado de quase tudo, essas pessoas estavam taxando seus militantes de radicais e bocas prestas. Estavam empregados na prefeitura, nos gabinetes de deputados e nos empregos e cargos do estado. Estavam desfrutando, enfim, dos benefícios do poder. E não podiam abandonar nada disso, para ouvir e seguir as idéias de um bando de “radical”, que tinham a pretensão descabida de fazer um Presidente da República.
O PT, portanto, tem e fez história em Casa Nova. Mesmo renegado à marginalidade política, o partido esteve presente na luta pelos direitos dos assalariados rurais e com eles fundou o SINTAGRI, que mudou a vida de tanta gente; na luta com os profissionais da Educação, através da APLB Sindicato; em praticamente todos os seminários, congressos e demais eventos que discutia assuntos de interesse da população; esteve e continua presente na luta pela defesa do acesso à terra, tanto no MST, como nas lutas contra a Agroindustrial Camaragibe, além da luta ainda travada na defesa do povo da Areia Grande. Já na década de 80, o PT discutia nas comunidades do interior sobre a necessidade dos trabalhadores rurais se unirem em torno das Associações de Fundo de Pasto, a fim de garantir a permanência dos mesmos na terra e, na década de 90, iniciou a luta pela construção de cisternas para consumo humano e depois para o consumo animal, projeto em que militantes do PT trabalhavam voluntariamente, sem ganhar nenhum tostão, e sem nenhum apoio governamental, que só veio após o governo Lula.
É fácil, porém, hoje, jogar pedra no PT. Mas se até mesmo o próprio Jesus Cristo, que amou a humanidade de tal forma, que deu sua vida para pagar os nossos pecados, que transformou a história da humanidade, é esquecido pó muitos, inclusive por vários que dizem que o amam, é natural, portanto, aceitar que assim caminha o homem e a humanidade: muitas vezes, não valorizamos aqueles que mais querem o nosso bem e nos entregamos a prestigiar a quem só quer usar de nossa boa ou má vontade, para se promoverem e se darem bem na vida.
O PT de Casa Nova é maior que todas as críticas maldosas e infundadas e permanecerá firme na defesa dos interesses maiores do povo brasileiro. Seus militantes, no que pese as divergências internas de pensamento, são heróis sem medalha na história deste município. São homens e mulheres, como diz o poeta Zé Geraldo, “dispostos à luta sem glória” e merecem o respeito, pois tiveram a perseverança de renunciar a todo tipo de favorecimento, de suportar todas as humilhações, mas mantiveram empunhada a bandeira da liberdade e da justiça, fato que ajudou a colocar um operário e uma mulher no cargo maior do país e que tem mudado muito, e para melhor, a vida do povo de Casa Nova, da Bahia e do Brasil.
Se alguém quer acreditar em “Salvador da Pátria”, que virá montado em seu Cavalo Brando , trajado de Guerreiro e com sua lança na mão, que continuem a se iludir. Salvador só existiu um: Jesus Cristo.
Não se muda um município, um estado ou um país com a prestação de favores. Não se combate fogo, usando mais fogo. Para se criticar algo, é preciso ter feito a coisa certa, quando se esteve no poder. E se existe uma organização que tem história e que compromisso com o povo de Casa Nova, que escreveu sua história nesta terra com o sangue, o suor e as lágrimas de seus militantes, é o Partido dos Trabalhadores, que por isso e muito mais, merece mais respeito e consideração de todos que querem o bem deste município.
ANISIO NUNES DE AZEVEDO FILHO
Nascido em 1966, em Casa Nova (BA), iniciou sua vida política em 1988, como liderança sindical do Sindicato dos Bancários da Bahia e, desde abril de 1992, é filiado ao Partido dos Trabalhadores em Casa Nova. É formado em História, pela Universidade Estadual do Piauí e, ao longo de sua vida trabalhou em importantes empresas, como o Banco do Brasil, IBGE e EBDA. Como Professor, deu aulas no Colégio Objetivo, no Centro Educacional Antônio Honorato e na Escola Gira-Sol, em Remanso (BA).Participou ainda, como voluntário, do lançamento do Programa Fome Zero, no Governo Lula, em 2003, quando foi escolhido por organizações da sociedade civil para representar a mesma nessa tarefa. No PT, ocupou por meio de eleição interna, por várias vezes, cargos de direção no PT. Atualmente é membro do Diretório Municipal do partido, no município.
A matéria representa uma resgate da história política de Casa Nova a partir dos anos 80 do século passado. Um tempo em a cidade ficou conhecida pela violência, a ameaça, mas, sobretudo, pela coragem gigantesca da populaçao: dasafiar o poder, a truculência, luta para a qual, indispensável foi o apoio e paricipação da Diocese de Juazeiro, através de seu bispo D José Roderigues e dos padres, a exemplo de Parde Chiquinho. Uma parte da história que não pode ser esquecida pelas novas gerações porque não se constrói um futro justo sem aprender com os mártires do passado. Viva a liberdade de Casa Nova, conquistada pelo povo.
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