segunda-feira, 14 de maio de 2012

Redução de juros dos bancos tem condições de ser sustentável, avaliam especialistas

A redução dos juros bancários registrada nas últimas semanas não é passageira e tem condições de ser sustentável, dizem especialistas ouvidos pela Agência Brasil. Segundo eles, a queda das taxas tende a reduzir a inadimplência, uma das principais causas dos juros altos. Além disso, a desaceleração da economia impedirá que a taxa Selic, juros básicos da economia que servem de referência para as taxas finais das operações de crédito, seja reajustada tão cedo pelo Banco Central.O governo tem agido em duas frentes para reduzir os juros. Por um lado, os bancos públicos têm liderado um movimento de corte nas taxas das linhas de crédito. Isso reduz o spread bancário, diferença entre o custo dos bancos para captar recursos de clientes e as taxas cobradas nos empréstimos e financiamentos.


Por outro lado, desde o segundo semestre do ano passado, o Banco Central vem reduzido a taxa Selic. Atualmente em 9% ao ano, os juros básicos estão no segundo menor nível da história. Para permitir que a taxa continue caindo sem provocar desequilíbrio no mercado financeiro e nas contas públicas, o governo mudou a remuneração da poupança.
Ao mesmo tempo em que estimula o crédito, a redução dos juros pode aquecer a economia. Caso o consumo se expanda rapidamente, a inflação pode voltar a acelerar, o que forçaria o Banco Central a interromper a trajetória de queda da Selic. Os especialistas, no entanto, descartam o risco de reajuste dos juros básicos. “A atividade econômica está desacelerando. O Banco Central está agindo tecnicamente num contexto de inflação em queda”, avalia o professor de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Robson Gonçalves.


Especialista em finanças pessoais e professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Newton Marques diz que a equipe econômica tem instrumentos para conter um eventual repique da inflação sem necessariamente mexer na Selic. “Se a inflação voltar a apertar, o governo tem um arsenal de medidas administráveis. O governo pode cortar gastos; e o Banco Central, intervir para baixar o dólar”, declara.Para os dois economistas, a alta da inflação no fim de 2010 e em 2011 foi provocada fundamentalmente por choques nos preços internacionais de alimentos e minérios, fator que não se repetirá neste ano por causa da desaceleração da China e da crise na Europa. “O Banco Central conta com o cenário externo para manter o ciclo de redução dos juros básicos”, diz Gonçalves.


Outro fator que poderia interromper a redução dos juros bancários, uma eventual alta da inadimplência provocada pela expansão do crédito, também foi descartada pelos especialistas. Segundo o professor da FGV, a queda dos juros bancários deve ter o efeito oposto e reduzir os calotes. “As famílias caem na inadimplência justamente por causa dos juros altos. Com o alongamento dos prazos e a queda das taxas, o valor comprometido para os financiamentos fica menor”, ressalta.Para Newton Marques, o receio de que os bancos estejam mentindo ao informar as reduções de taxas não representa uma preocupação. Isso porque, mesmo nesses casos, os consumidores que recorrem à Justiça poderão se beneficiar de juros menores. “Os contratos bancários com revisão judicial são baseados nas taxas médias informadas ao mercado. Se houver mentira, ela será incorporada à taxa renegociada”, explica.


Agência Brasil

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