sábado, 9 de março de 2013

NEOLIBERALISMO DEU CADEIA. "POPULISMO" GEROU UM MITO

Uma tripla coincidência envolveu este ano três dos mais famosos políticos da América do Sul nas últimas décadas. Em janeiro, depois de tempos sem que fosse alvo de alguma notícia, o jornal La Republica, do Peru, mostrou de maneira inédita imagens do ex-presidente Alberto Fujimori na prisão em que cumpre, dentro do país, penas de 25 anos por violação dos direitos humanos e de 75 anos por corrupção (assista vídeo abaixo).

Nesta semana, o também ex-presidente Carlos Menem, da Argentina, foi condenado pela Câmara de Cassações a 25 anos de prisão pelo tráfico de 6,5 toneladas de armas para o Equador e a Croácia. Cumprindo, aos 85 anos de idade, um mandato de senador em seu país, igualmente havia tempos que Menen não frequentava o noticiário do continente.

Dias antes, na terça-feira 5, o governo da Venezuela anunciou a morte do então presidente Hugo Chávez. Sabia-se, até ali, que seu estado de saúde era grave, na tentativa de recuperação de um câncer, mas não havia informações objetivas sobre ele e seu estado de saúde desde dezembro.

Em 1999, Fujimori, Menen e Chávez viveram outra coincidência. Ele foram líderes, naquele anos, de Peru, Argentina e Venezuela, respectivamente. Fujimori governou seu país por 10 anos, entre 1990 e 2000. Menen também ficou uma década no mando da Argentina, de 1989 a 1999. E foi neste ano que Chávez iniciou seus quatro mandatos na Venezuela, cumprindo 14 anos no poder até sua morte.

O que sempre distingüiu os três presidentes foi o tratamento dedicado a cada um deles pela mídia tradicional. Tanto em seus países como no Brasil. O neoliberalismo econômico de Fujimori e Menem foi saudado como o melhor caminho que poderia ter sido percorrido por Peru e Argentina. Chávez, com suas prática na contramão do mercado, foi desde logo taxado de 'populista', 'caudilho' e 'esquerdista'. Nunca houve imparcialidade na análise de seus governos, bem ao contrário. Toda a torcida favorável a Fujimori e Menen, em seus respectivos anos de poder, foi proporcionalmente inversa diante do desempenho de Chávez.

A julgar pelo noticiário e por editoriais dos grandes jornais, Chávez era praticamente um ditador no governo venezuelano. Lembra-se forçosamente agora, porém, que das 14 eleições que disputou pelo voto, venceu 13 – a que perdeu, por dois por cento dos votos (um plebiscito sobre a reforma da Constituição do país), teve o resultado reconhecido por ele imediatamente após sua proclamação. Ao fim dos 14 anos em que exerceu o poder, a mortalidade infantil caiu pela metade, o analfabetismo foi considerado erradicado, o número de professores multiplicado por cinco e a Venezuela tornou-se o país sul-americano que alcançou, junto com o Equador, entre 1996 e 2010, a maior redução da taxa de pobreza em todo o continente.

O neoliberal Carlos Menen, agora condenado a 25 anos de prisão por tráfico de armas – pena que só deverá cumprir se for submetido a processo político no senado argentino –, pilotou um plano econômico que congelou os recursos da população, o que derrubou temporatiamente a inflação, pelo que passou a ser saldado. No campo político, anistiou o ex-ditador Jorge Videla e o comandante militar Eduardo Massera. Mais tarde, deixou o governo com taxa de desemprego acima dos 20 por cento e uma situação de recessão da qual até agora a Argentina, quase 15 anos depois de sua gestão, não consegue se recuperar.

Alberto Fujimori, que chegou a ficar preso no Chile numa área de 10 mil metros quadrados só para si, com direito a casa com sala de visitas e telefone particular, ainda hoje cumpre pena no Peru sob denúncias de desfrutar mordomias inexistentes para qualquer outro preso no país. Em seus governos, ele conseguiu baixar a taxa de inflação de mais de 7mil por cento, em 1990, para já no ano seguinte promover um crescimento do PIB de mais de 12%, alcançando um dos maiores índices de elevação em todo o mundo. As condições de vida da maioria da população, no entanto, se deterioraram e o sucesso econômico festejado pela mídia se mostrou socialmente inútil. Em 2000, cercado por denúncias de corrupção e violações dos direitos humanos, Fujimori aproveitou uma viagem ao Brunei para dali fugir de seu país, pedindo asilo no Japão, onde tinha cidadania. Só veio a ser preso anos depois, ao vajar para o Chile e, dali, ser exilado para o Peru.

Um com o final de carreira entre as grades, outro com prisão determinada pela justiça, Fujimori e Menem venceram Chávez em vida na batalha pelas preferências da mídia tradicional. O presidente venezuelano, porém, ainda agora é velado pelo povo do seu país, que em mais um sinal de gratidão tende a eleger o sucessor que ele indicou no pleito a ser marcado para dentro de 30 dias. Na mídia tradicional, no entanto, o neoliberalismo econômico do qual Fujimori e Menen foram duas grandes expressões na América do Sul continua valendo muito mais que o caminho alternativo de resultados sociais trilhado por Chávez. Essa miopia econômica e social sem dúvida vai continuar vigindo dentro dos grandes grupos de comunicação do continente.


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