A greve dos policiais militares e bombeiros do estado chegou ao fim, na noite desta quinta-feira (15), com um rastro de destruição e crimes ocasionais por toda a Região Metropolitana do Recife. Segundo a Polícia Civil, 234 pessoas foram detidas e 102 autuadas em flagrantes nas ocorrências das últimas 48 horas.
A Coordenação de Operações e Recursos Especiais (Core), além de todas unidades especializadas e policiais das delegacias, foram para as ruas tentar evitar maiores danos. O trabalho recebeu o apoio da Polícia Rodoviária Federal e, nesta quinta, da Força Nacional, do Exército e da Companhia Independente de Operações na Área de Caatinga (Ciosac), da Polícia Militar
Ao todo, 180 policiais civis e 59 viaturas foram deslocados para as operações. Dentre os delitos registrados: furtos, roubos, perturbação do sossego, porte ilegal de arma de fogo e dano qualificado.
Oito homicídios registrados na Região Metropolitana do Recife
Pelo menos oito homicídios foram registrados na noite desta quarta-feira e madrugada de quinta-feira, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Seis pessoas foram assassinadas no Recife, uma em Igarassu e uma em Moreno. Na coleta de cadáveres, por falta de espaço, a viatura do Instituto de Medicina Legal (IML) teve que transportar dois corpos em um mesmo compartimento.
Entre os mortos no Recife estão: Alexandre de Lima, foi assassinado no bairro de Jardim São Paulo; Jailton José de Lima, de 26 anos, foi morto com seis disparos de arma de fogo em Areias; Edilson Xavier da Silva, de 35 anos, foi assassinado após ter a casa invadida no Torreão e David Ângelo Alves,de 22 anos, teria sido executado por uma gangue no bairro de Santo Amaro.
Ontem foi um dia marcado pelo medo. Em meio à deflagração da greve da Polícia Militar, o pernambucano vivenciou não apenas boatos difundidos pelas redes sociais, mas também a violência real. À tarde, um protesto motivado pelo atropelamento de um idoso, na BR-101, em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife, transformou a cidade em um cenário de guerra. Dezenas de pessoas saquearam caminhões de bebidas e salgadinhos na estrada, invadiram lojas e furtaram produtos. Um ônibus da empresa Itamaracá foi incendiado e um veículo dos Correios destruído. Era uma prova de que a população estava, sim, cercada também de verdades preocupantes.
Os comerciantes bem que tentaram escapar da ação dos vândalos ao fecharem as portas mais cedo, mas foram surpeendidos com os arrombamentos. As lojas Insinuante e Laser Eletro foram saqueadas. “A situação está muito tensa. Quando você está na BR-101 e se aproxima da Chesf, já percebe grupos em pontos da rodovia esperando os caminhoneiros para roubos de carga. Mais adiante, no Centro da cidade, as pessoas estão carregando máquinas de lavar, computadores e até geladeiras. Não vi ninguém armado, mas a Polícia Rodoviária Federal não consegue conter o povo e os roubos continuam”, desabafou uma testemunha, no início dos saques.
À noite, o supermercado Arco-Íris também foi invadido. O Centro de Abreu e Lima anoiteceu com muito lixo no chão, além de eletrodomésticos e sapatos destruídos pelas ruas. Até as 23h, a Polícia Civil prendeu 12 pessoas, o que provocou a ira da população e um confronto com direito a bombas de efeito moral e gás de pimenta. À meia-noite, os saques continuavam.
No Recife, a população passou o dia em estado de alerta, agravado por um apagão que atingiu vários bairros. Falsas notícias sobre arrastões em locais como a Universidade Católica de Pernambuco, Pina, Boa Viagem e Boa Vista levaram os comerciantes a fecharem as portas mais cedo. “Muitas histórias foram ditas e a gente não sabe o que é verdade ou mentira”, contou Eduardo Henrique, funcionário de uma loja de roupas, fechada uma hora antes do horário normal. Gerente de loja, Rubem Santos afirmou que o movimento foi normal, mas quando anoiteceu os boatos ganharam força. “Com todas as lojas fechando as portas, ficou difícil permanecer”.
Falsas histórias do estupro de uma adolescente de 12 anos e da perseguição ao suposto estuprador na UFRPE, o linchamento de uma pessoa na Encruzilhada, assaltos e um tiroteio na Avenida Agamenon Magalhães se reproduziram nas redes sociais e viraram verdade para muitos. Também houve, no entanto, ocorrências reais como o assalto a um ônibus em Boa Viagem e arrastões na Avenida Norte e Cruz Cabugá.
Diário de Pernambuco
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