O sonho da população de Lajedinho, na Chapada Diamantina, que estava castigado pela seca, era que chovesse 150 milímetros em dois meses. Mas essa quantidade caiu em menos de duas horas, deixando um rastro de mortes e destruição jamais visto na cidade.
O rio Saracura, que corta o município, transbordou e saiu levando casas, carros, animais, pessoas e tudo mais que encontrou pela frente. Até as 21h15 deste domingo (8), já eram 11 mortos, seis desaparecidos e 200 desabrigados, mas é possível que o número suba a qualquer momento. Isso porque equipes de resgate de Salvador foram deslocadas até o município - que fica a 446 quilômetros da capital - para procurar corpos.
A chuva começou por volta das 22h de sábado e surpreendeu os moradores. “Rafaela viu a parede de sua casa cair, ficou desesperada e saiu para a rua. O marido tentou segurá-la, mas não conseguiu.
A correnteza levou”, contou o morador Marcos Antônio Arim, sobre uma das vítimas. Até as 21h15 de ontem, o corpo da professora do município ainda não tinha sido encontrado. Outra vítima foi a conselheira tutelar Valéria Cruz Lima, conhecida como Léa.
“Ela e a família subiram no telhado da casa para escapar da enchente. A casa caiu com todo mundo em cima”, relatou Arim, que fez as fotos dessa reportagem. Junto com Léa, morreram o marido, o filho Tharso, de quatro anos, a cunhada, a sogra e uma adolescente que era criada pela sogra.
O taxista Carmenísio Lima, conhecido como Nêgo do Táxi, trabalha levando pessoas de Itaberaba para Lajedinho, mas conta que as viagens de ontem foram as mais tristes. “A pessoa chegava no lugar todo destruído e dizia: ‘minha casa era aqui, sumiu tudo’”, lembra ele, que era amigo de algumas das vítimas.
O prefeito está morando temporariamente com uma sobrinha e vestindo roupas de amigos, já que ficou sem nada. Além de ficar sem casa, o prefeito também não tem mais onde despachar. Junto com secretarias e postos de saúde, a prefeitura da cidade ficou totalmente destruída. “Perdemos computadores, documentos, móveis...”. Nem o prefeito Antônio Mário escapou dos efeitos do temporal. Ele teve sua casa destruída por dentro. “Perdi móveis, roupas, tudo. A casa ainda dá pra reformar, mas não tenho mais coragem de voltar”.
Os desabrigados, conta, foram levados para escolas, fazendas próximas e casas de parentes. As crianças ficarão sem aulas por, pelo menos, uma semana. “Estamos recebendo muita ajuda de municípios vizinhos, que estão mandando donativos”.
Assim que soube da tragédia, o vice-governador Otto Alencar se deslocou de helicóptero ao local. “Passei o dia lá. Foi uma tragédia horrível, a maior esse ano em número de mortos. Parece que teve uma guerra”. Segundo Otto, que nasceu na região, o governo do estado enviou equipes de bombeiros, policiais militares, agentes da Defesa Civil e um helicóptero.
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