Foram exatas 30 horas. Em passagem relâmpago por Brasília e São Paulo, o presidente François Hollande deixou no ar um sentimento de missão cumprida. Ainda que seu principal objetivo, a venda de caças Rafale à FAB, não tenha saído oficialmente do papel, ele reassumiu o compromisso como um dos maiores parceiros comerciais do Brasil.
A França é nosso quinto maior investidor. A balança comercial entre os dois países atingiu US$ 10 bilhões no ano passado, com saldo favorável e crescente para a França. Em 2012, o superavit francês foi de mais de US$ 500 milhões; no acumulado deste ano, já ultrapassou US$ 2 bilhões.
O jornal francês Le Monde ressaltou que a visita pouco teve a ver com a do também presidente socialista François Mitterand, em 1985, que passou quase uma semana em solo brasileiro, prestigiando a cultura e história do país. Hollande tem pressa. A França, que já administra uma intervenção militar no Mali, declarou guerra recentemente à Republica Centro-Africana. Além disso, o presidente francês tenta reverter a desaprovação de seu governo e a crise econômica que tem estagnado o país.
Acompanhado por oito ministros e por representantes de 50 empresas francesas, ele veio decidido a explorar novas oportunidades de negócios no Brasil. A principal delas é um contrato de aproximadamente 5 bilhões de euros que disputa, para renovação da frota de caças da FAB. Ao lado do presidente da Dassault, ele retomou o lobby com a presidente Dilma Rousseff e com o ex-presidente Lula, num momento em que o F/A-18 Super Hornet, da Boeing perdeu, terreno após o escândalo de espionagem do governo dos EUA.
Em troca, Hollande oferece à presidente Dilma Rousseff o apoio ao Brasil para uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e à conclusão de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.
Além disso, tocou num ponto particularmente importante para a presidente: uma parceria para mudar a gestão global da internet. Na tentativa de frear os abusos da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), Dilma Rousseff tem tentado conquistar o apoio de grandes nações europeias para discutir o controle do uso da rede. Hollande afirmou que a França "saudava" e "apoiava" a iniciativa de proteção de dados pessoais. "Porque ela é necessária, tanto para as nações quanto para as liberdades individuais", afirmou o francês. "Tratamos ainda da defesa cibernética, que é ainda mais necessária após a revelação de uma série de informações que fizeram necessária uma reação firme. Precisamos ter políticas para isso e buscar uma convergência."
Com a França, o Brasil conquistou ainda a instalação de dois centros de pesquisa, um em Petrópolis e outro no Rio de Janeiro, e a transferência de tecnologia para fabricação no Brasil “dos sistemas de supercomputação em alto desempenho por meio de parceria com o fabricante nacional”. A presidente declarou que apenas dez países detém “capacidade instalada nesse campo”.
O governo francês também se comprometeu a receber 10 mil bolsistas do programa Ciências sem Fronteiras até 2015, e a facilitar o “visto mochileiro”, que permite que jovens de 18 a 30 anos possam viajar e trabalhar no outro país por um período de até um ano.
Roberta Namour
correspondente do 247 em Paris
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