Quando a primeira lista de bilionários FORBES foi publicada, em 1987, apenas três brasileiros estavam no grupo: Sebastião Camargo, fundador do conglomerado industrial Camargo Correa e proprietário das mundialmente conhecidas sandálias Havaianas; Antônio Ermírio de Moraes, um dos acionistas do Grupo Votorantim, gigante produtora de matérias primas, desde polpa de frutas até cimento; e Roberto Marinho, que transformou um pequeno jornal herdado do pai em 1925 no maior império midiático da América Latina, as Organizações Globo.
Nascer dono de uma fortuna ainda é o jeito mais fácil de atingir o status de bilionário em algum momento da vida, mesmo que a porcentagem dos herdeiros venha diminuindo no ranking FORBES dos mais ricos do mundo. Cerca de dois terços dos 1.645 nomes da lista em 2014 são de bilionários por conta própria, enquanto 207 herdaram o patrimônio e outros 352 receberam uma parte da fortuna e foram capazes de aumentá-la.
O Brasil não é exceção. Conforme a renovada riqueza do país cria mais milionários e bilionários, as famílias se tornam uma fração cada vez maior disso. Dos 65 brasileiros bilionários listados por FORBES, 25 eram parentes. Oito famílias têm vários membros no último ranking.
É esse o caso da família Oderbrecht, que controla um dos maiores conglomerados industrial do Brasil e tem o status de ser uma das mais ricas do país (cerca de 15 pessoas dividem a fortuna); e dos Setúbal, que estão entre os controladores do Itaú Unibanco Holding. Juntas, as 15 famílias mais ricas do Brasil valem estimados US$ 122 bilhões (em torno de R$ 269 bilhões), cerca de 5% do PIB do país.
Essa cultura brasileira resulta em as maiores empresas do Brasil ainda serem controladas por famílias, e é provável que essas companhias continuem gerando lucro para seus proprietários por muito tempo. Não é surpresa que, segundo o ranking feito pela revista EXAME, 6 dos 10 maiores conglomerados brasileiros sejam comandados por famílias. Algumas destas dinastias definiram a história da indústria, incluindo mídia, bancos e construtoras.
É esse o caso dos filhos de Roberto Marinho: os bilionários Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto. Combinados, eles valem US$ 28,3 bilhões (aproximadamente R$ 62,6 bilhões), o que os coloca como a família mais rica do Brasil. Os irmãos Marinhos são donos de 100% da Organizações Globo, incluindo a Rede Globo, que controla metade do mercado televisão do país, com vendas que atingiram US$ 4,8 bilhões (em torno de R$ 10,6 bilhões) e geraram lucros de US$ 1,1 bilhão (cerca de R$ 2,4 bilhões). Apesar de ser a maior companhia midiática do Brasil, a Globo resiste em abrir seu capital e permanece como um negócio de família.
Os Villela e os Setúbal também estão nessa categoria. Juntos, controlam a Itausa, holding que administra o Itaú Unibanco Holding, maior banco privado no Hemisfério Sul. Ambas as famílias são conhecidas em São Paulo como "quatrocentonas’’.
Nem todas as famílias brasileiras conseguiram manter suas fortunas ao longo dos anos. Um dos exemplos mais notórios de perda são os Matarazzo, industrialistas de origem italiana. O império comercial deles era o maior do Brasil e, provavelmente, da América Latina, no início do século 20, com mais de 30 mil funcionários em 367 fábricas (têxtil, alimentação e diversos produtos). Em 1983, 101 anos depois da sua fundação, o Grupo Matarazzo alegou uma dívida de US$ 160 milhões e entrou em concordata. Na época, a família atribuiu a crise à política econômica do governo.
Para se preparar para esse tipo de adversidade, abrir o capital tornou-se uma maneira de empresas familiares expandirem. O Brasil experimentou uma onda de IPOs, cujo início pode ser atribuído ao meio de 2005, quando, depois de uma década de políticas econômicas espartanas, o país começou a mostrar que vingaria seu potencial econômico. A grande maioria dessas empresas são controladas por grupos familiares.
“As famílias estão atrás de investidores externos”, explica René Werner, um conselheiro de negócios familiares. “Isso os torna mais capazes de atingir o potencial dos seus negócios.”
Para muitas famílias brasileiras que pretendem crescer financeiramente, acionistas externos podem ser necessários para alcançarem seus objetivos.
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