O bacharel em Direito Ricardo Lopes Hage, 54 anos, está preso na sede da Polícia Interestadual (Polinter), no Complexo dos Barris,acusado de usar um perfil feminino falso no Facebook para obrigar mulheres a fazerem sexo com ele, sob a ameaça de terem fotos íntimas divulgadas na internet. Marido de uma juíza do trabalho, Hage teve a prisão temporária de 30 dias decretada depois que mulheres e adolescentes prestaram depoimento na Secretaria da Segurança Pública (SSP), no Centro Administrativo da Bahia (CAB). De acordo com a assessoria de comunicação da Polícia Civil, o acusado já responde a inquéritos por lesão corporal e estelionato. Na quarta-feira (23) a defesa deu entrada no pedido de habeas-corpus. Segundo a Polícia Civil, Hage foi indiciado pelos crimes de extorsão mediante sexo ou dinheiro e falsidade ideológica.
MODUS OPERANDI
Com o perfil “fake”, Ricardo Hage atraía as mulheres e, na medida em que conquistava a confiança das amigas virtuais, sugeria que elas lhe enviassem fotos íntimas. Ao conseguir as imagens e os números de telefone das vítimas, ele se identificava como homem, enviava imagens obscenas e passava a fazer propostas indecentes. Em poder de fotos íntimas das mulheres, ele ameaçava divulgar o teor da conversa, caso não obtivesse sexo como recompensa para se livrar dos materiais. O processo corre na Segunda Turma da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), tendo como relator o desembargador Osvaldo de Almeida Bomfim. Ainda não se sabe se está em segunda instância.
A assessoria de comunicação da Polícia Civil não soube informar há quanto tempo Hage era investigado, mas confirmou que a Secretaria da Segurança determinou que a apuração fosse realizada pela Superintendência de Inteligência, para garantir o segredo de justiça, já que numa delegacia seria mais difícil. A delegada Suzy Anne Brandão, responsável pela investigação, interrompeu as férias para cumprir o mandado de prisão temporária contra Hage, emitido e cumprido no último dia 14.
INVESTIGAÇÃO
A prisão do bacharel foi realizada em sua residência, na casa 03 do Condomínio Colina de Patamares, na Avenida Ibirapitanga, em Patamares, bairro nobre da capital. Ricardo Hage teve o sigilo telefônico quebrado e expedidos mandados de busca e apreensão para recolher fotos, papéis, celular, aparelhos eletrônicos, além de mídias que armazenem dados, como CDs, DVDs, pendrives, HDs externos, CPUs e cartões de memória. Ontem pela manhã, o CORREIO esteve no Condomínio Colina de Patamares, mas nenhum parente do bacharel em Direito foi encontrado para comentar o assunto. Funcionários do local não sabiam da prisão e se mostraram surpresos. “Ele é uma pessoa tranquila. Ninguém tem nada o que dizer dele, aqui. Passa, fala com todo mundo. Nunca se envolveu com problemas”, afirmou um dos vigilantes do residencial de luxo.
PROCESSO
Na consulta feita ao Processo de nº 0006063-41.2014.8.05.0000, no site do Tribunal de Justiça, consta que a defesa deu entrada no pedido de habeas-corpus ontem. Quatro advogados fazem a defesa de Ricardo: Rudá Santos Figueiredo, Márcio Bellazzi de Oliveira, Gabriel Dalla Fareva de Oliveira e James Jeorge Cordeiro de Menezes. Todos eles trabalham na filial de Salvador da Gamil Föppel Advogados Associados. Depois de tentar contatos por telefone, o CORREIO esteve no escritório, que fica na Avenida Tancredo Neves, mas nenhum dos advogados foi encontrado. Ainda ontem, foi divulgada, por veículos de imprensa locais, a informação de que Ricardo Hage seria parente do ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU) e ex-prefeito de Salvador (1975-1977), Jorge Hage, mas tanto a assessoria do órgão federal como a Polícia Civil negaram.
Em um ano, ao menos 5 são presos por extorsão pela internet na Bahia
Pelo menos quatro casos de extorsão sexual pela internet, que terminaram com cinco prisões, foram registrados na Bahia entre maio do ano passado e abril deste ano. No final do mês passado, Emerson Laranjeiras Leite, 22 anos, e Zenildo Silva Regis Santos, 21, foram presos em flagrante em Itabuna, no Sul do estado, acusados de aliciarem menores utilizando, também, um perfil falso no Facebook. Segundo a Polícia Civil, com o perfil fake de nome ‘Laura Camilla’, eles enganavam as vítimas, a maioria menores de idade, para conseguir vídeos de sexo delas. Também no interior, em Conceição do Jacuipe, a 97 quilômetros de Salvador, Jossimar Bispo dos Santos, de idade não divulgada, foi preso em fevereiro deste ano por extorsão a uma mulher.
Ele obteve um vídeo íntimo da vítima e exigiu dela R$ 1 mil para não divulgá-lo na web. Mas, acabou denunciado e preso em flagrante. Na capital, outros dois casos tiveram repercussão: Ravel Pereira Santos, 21, repositor de supermercado, terminou na prisão após se passar pelo dançarino Eric Dantas, da banda Black Style. Após obter imagens de dez jovens, se passando pelo pagodeiro no Facebook, e conseguir fazer com que duas delas cedessem a sua chantagem, ele foi preso em novembro do ano passado, na frente de um motel, na Boca do Rio, quando aguardava fazer mais uma vítima. Esta, no entanto, o denunciou à Polícia Civil.
O outro caso, em Salvador, ocorreu em maio de 2013 e terminou com a prisão do estudante de Direito Elber Gama Lima, 24, acusado de chantagear e ameaçar publicar na internet fotos íntimas da ex-namorada, 19 anos. Ele foi detido no Largo da Madragoa, na Ribeira, quando iria receber R$ 200 da vítima. A quantia era exigida pelo universitário para não expor a jovem. Elber não se conformava com o fim do namoro e passou a telefonar e enviar e-mails à garota, exigindo a quantia de R$ 50 para não exibir as fotos. A jovem cumpriu a exigência, mas ele voltou a ameaçá-la e pediu mais. No entanto, antes de encontrar o rapaz novamente, ela foi à delegacia e fez a denúncia.
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