segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sistema de irrigação criado por técnicos da Codevasf é finalista em prêmio nacional


A alteração do sistema de irrigação do perímetro Mandacaru, no semiárido baiano, promovida pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), é uma das finalistas do prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2013. Entre os benefícios do novo sistema estão o fim do desperdício de água, o melhor desenvolvimento da planta e a economia de energia elétrica.

O trabalho inscrito – que concorre com outros cinco candidatos – foi desenvolvido pelos técnicos da Codevasf Frederico Calazans, Juan Ramon Fleischmann e Rodrigo Franco Vieira com objetivo de proporcionar o uso mais eficiente da água e contribuir para a revitalização da bacia hidrográfica do rio São Francisco. Nesta quinta-feira (24), a Codevasf receberá certificado de finalista num evento da Fundação Banco do Brasil em Salvador; e a entrega do prêmio deve ocorrer dia 19 de novembro em Brasília (DF).

Frederico Calazans, engenheiro agrônomo e secretário-executivo da Área de Gestão de Empreendimentos de Irrigação da Codevasf, afirma que “a ideia foi aproveitar a tecnologia mais moderna e trazer o Mandacaru, que é um perímetro implantado na década de 70, para o século 21, usando as melhores práticas de irrigação e os melhores equipamentos e ferramentas disponíveis no mercado e buscando um perímetro ambientalmente correto e socialmente favorável”.

O sistema idealizado pelos técnicos da Codevasf constitui-se de pequeno reservatório escavado na terra e dentro do lote, de onde é retirada a água por meio de bomba, que pressuriza e leva o líquido por meio de pequenas mangueiras plásticas, de aproximadamente 33 mm de diâmetro e com pequenos furos, por onde a água goteja sobre a planta. Dependendo da cultura, a técnica utilizada é a de microaspersão, que funciona de maneira semelhante, só que a mangueira não possui furos, e a água é aspergida por meio de pequena haste cravada na terra com um microaspersor na ponta, que distribui a água em uma pequena área próxima à planta.

“Melhorou 100%. A quantidade de água que se usa hoje é 25% do que se usava. A melhor coisa que o governo já devia ter feito é essa mudança do sistema de irrigação. Acho que minha economia de água é de 80%, e tem gente aí tirando 45 a 50 toneladas por hectare de cebola e de melão”, atesta Nilton Alves Nunes, agricultor instalado no perímetro Mandacaru desde 1973.

Os bons resultados animaram também o estudante Erick Cesar Saraiva, que há quatro anos começou a trabalhar no lote com o pai. Solteiro, é o mais novo de quatro irmãos, mas só ele e o pai moram na agrovila Mandacaru I. “A produção mais que dobrou”, afirma. “Antigamente a gente tirava umas oito toneladas de melão por hectare, hoje chega a 45 toneladas. A cebola era de 500 a 600 sacos por hectare, hoje chega a 2, ou 2,5 mil toneladas por hectare”. Pai e filho trabalham em uma área de 19 hectares divididos em dois lotes.

Quebrando o paradigma
“A mudança começou há mais de três anos, em um dos lotes do perímetro Mandacaru, onde, em síntese, foram realizados estudos sobre as necessidades do lote, a oferta de água necessária para o desenvolvimento da produção e o melhor sistema de irrigação a ser utilizado”, explica o engenheiro agrônomo da 6ª Superintendência Regional da Codevasf, em Juazeiro (BA), Rodrigo Franco Vieira.

Depois de implantado o sistema, testado e colhidos bons resultados, dentro de aproximadamente um ano, o trabalho foi apresentado para todos os pequenos produtores do Mandacaru. Segundo Jackson Cardoso Dantas, funcionário do Distrito de Irrigação de Mandacaru (Dimand), “no início foi muito difícil convencer o pessoal a mudar a maneira de irrigar. Eles vinham há 35 anos plantando por inundação e, quando viram uma gota de água caindo na planta, não acreditaram no sistema”.

O desenho do sistema inclui uma caixa de água ou reservatório próximo à casa de bomba, onde o produtor mistura os produtos, como fertilizantes, que vão diretamente pelo sistema de irrigação até a planta. Dessa maneira o produtor só precisa monitorar todo o sistema, regulando a vazão de água e cuidando da filtragem na captação do líquido, para que o sistema não entupa. O produtor do lote piloto acompanhou todo o trabalho de implantação do equipamento e recebeu treinamento para poder operar o sistema.

“Foi preciso quebrar o paradigma. Para haver uma mudança da irrigação por sulcos para a irrigação localizada, precisamos também de uma mudança cultural – da forma de encarar o problema da água, os custos sociais e econômicos desta água, a forma de lidar com a planta, com o meio ambiente e com toda essa nova tecnologia”, enfatiza Frederico Calazans. Ele acrescenta que “no início os produtores estavam um pouco arredios, mas com a ajuda dos serviços de assistência técnica que a Codevasf ofereceu no início do projeto, e com palestras, visitas e demonstrações técnicas, conseguimos convencer os produtores a acreditarem na ideia”.

Benefícios do novo sistema
Na opinião de Calazans, atualmente os produtores já estão convencidos dos benefícios econômicos, sociais e ambientais do uso desse sistema de irrigação. Mas ele observa que “ainda hoje alguns produtores precisam de um acompanhamento mais intenso, principalmente os produtores de cebola. Eles ainda querem manter aquela prática de irrigar a planta mais do que necessário. Isso vai de encontro ao que é praticado em outros lugares pelo mundo, que estão fazendo essa conversão, como por exemplo na Índia e no Vietnã, onde o arroz não está mais sendo plantado por meio da inundação, mas sim por irrigação”. Hoje somente dois produtores ainda não aderiram ao novo sistema no perímetro Mandacaru.

Calazans diz que “uma grande vantagem que ainda não podemos mensurar, foi o ganho ambiental. Os drenos por onde o excesso de água escorria, estão vazios. Não há erosão do solo, e consequentemente, os produtos químicos utilizados não vão mais para o rio São Francisco”. Os idealizadores da experiência afirmam que não há dúvidas de que os índices de produtividade cresceram. Dependendo da cultura, como o melão, por exemplo, houve aumento de até 50%. A cebola ficou em torno de 45%. Na manga há estimativas de 25%. Segundo estudos realizados até hoje, houve economia de aproximadamente 50% do total de água utilizada na irrigação em todo o perímetro, já que o bombeamento anual de água foi reduzido em 21% e houve um aumento da área plantada em torno de 23%.

Jailson de Souza Ramos veio da cidade de Casa Nova e há dez anos trabalha no perímetro. Segundo ele, “hoje, no gotejo, a produção está melhor. Tenho 5,5 hectares onde planto melão, cebola e feijão, e tiro de 30 a 40 toneladas/ha de melão e de cebola”. “Estou satisfeito”, afirma o agricultor Pedro Bernardino, que tem uma área de 15 ha. “Hoje a produção é boa, economizamos mão de obra, gastos na adubação, e foi o primeiro perímetro onde foi feita a mudança”, comemora.

“Acreditamos que o projeto logrou êxito, teve um resultado bem positivo, tanto é que atualmente a Codevasf deve firmar contrato com empresa para fazer a implantação da conversão nos perímetros de Bebedouro, em Petrolina (PE), e Maniçoba, Curaçá e para os pequenos produtores do Tourão, aqui em Juazeiro”, observa Rodrigo Vieira. “Nossa melhor propaganda foi o boca a boca. Os produtores daqui e de outros perímetros conversavam entre si, e o resultado foi esse: todos os demais querendo fazer a mudança do sistema. A Codevasf foi sensível para isso e está apoiando a ideia. Esse é o futuro da irrigação – utilizar cada vez mais a tecnologia disponível para a redução significativa do consumo de água, usando somente o que a planta precisa, sem desperdício, afinal a água é um bem que deve ser usado de maneira consciente e sustentável”, afirma Calazans.

Prêmios nacionais
A mudança no sistema de irrigação realizada no perímetro Mandacaru já concedeu à Codevasf o prêmio ECO 2009 (promoção da Amcham e do Jornal Valor Econômico), na categoria Sustentabilidade em Novos Projetos, atribuído pela primeira vez ao nordeste; e o Selo Diamante, concedido em 2011 pela organização não-governamental Ecolmeia, de São Paulo. Além disso, foi classificado em 4º lugar no Prêmio ANA 2012, entre 286 inscritos. A experiência de conversão do sistema de irrigação do Mandacaru também foi apresentada no Fórum de Sustentabilidade Empresarial da Rio+20, realizada no Rio de Janeiro em 2012.

O Mandacaru
O perímetro irrigado Mandacaru, implantado pela Codevasf em 1973, está localizado a cerca de dez quilômetros da sede do município de Juazeiro e atualmente é composto por área irrigada total de quase 800 hectares, sendo que 419 hectares estão distribuídos em 54 lotes para pequenos produtores; e 350 hectares, para empresas. A tradição de culturas no perímetro é de manga, cebola, melão e cana de açúcar. No ano passado o valor bruto da produção ultrapassou R$ 9,03 milhões.


Ascom Codevasf
Foto : Frederico Celente / Codevasf


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