Um é político. O outro, empresário. Ambos se completam. Quando Sergio Cabral, em 2010, se reelegeu governador do Rio de Janeiro, com 63% dos votos válidos, Eike Batista chegava ao 8º lugar na lista dos homens mais ricos do mundo da revista Forbes. Vivam seus apogeus. Enquanto o primeiro juntava 5,2 milhões de votos em seu patrimônio político – e sonhava eleger-se vice-presidente da República --, seu amigo contava US$ 27 bilhões em sua fortuna pessoal – e prometia chegar ao topo do rol dos hiper ricos. Tudo era festa.
Admiravam-se e protegiam-se mutuamente. Flagrado em voos de carona no jatinho de US$ 30 milhões do dono do grupo X, Cabral nem precisou se defender. O amigo o escudou. "Empresto o avião para quem eu quiser", respondeu, secamente, Eike à mídia. Ficou por isso mesmo.
O tempo, não muito, passou. Mas rapidamente os dois iguais, cada um a seu modo, caíram das nuvens. Antes falando grosso, chegando até mesmo a tentar emparedar a presidente Dilma Rousseff com uma ameaça registrada em carta de retirar-lhe o apoio político caso se recusasse a fechar com seu candidato ao governo do Rio, o vice Luiz Fernando Pezão, Cabral acabrunhou-se. Um a um, seus usos e costumes no exercício do poder cobraram-lhe o preço. No momento, o que lhe parecia uma fácil eleição para senador no próximo ano já vai se tornando, diante da única vaga existente, uma missão quase impossível.
SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS - A descoberta da chamada Gangue dos Guardanapos, divertido nome dado para o festim parisiense no qual o próprio governador, homens da sua confiança e o empresário Fernando Cavendish surgiram na internet com guardanapos na cabeça, estragou-lhe o paladar.
Resistente, apoiado num plano de obras financiado pesadamente pela administração federal, Cabral continuou banqueteando-se. Um novo forte desgaste, porém, o fez sangrar na opinião continuamente na opinião pública, em razão da constante elevação do preço final da reforma do Maracanã, hoje em mais de R$ 1 bilhão. O mesmo Maracanã, por sinal, que seu amigo Eike conquistou para a exploração por 35 anos por meio de concorrência estadual contestada nos tribunais até o último momento.
Mesmo assim, o governador não mudou seu estilo. E a debacle veio, em definitivo, com a revelação do Voos das Babás, como ficou nacionalmente conhecido o escândalo da utilização dos helicópteros do governo estadual para o transporte das babás de seus filhos, do cachorrinho Juquinha e até do cabeleireiro da primeira-dama na rota Rio-Mangaratiba-Rio, em dezenas de idas e voltas da capital à sua casa de praia.
Divulgado em meio aos protestos populares realizados contra os excessos dos políticos, o Voo das Babás derrubou o que sobrara de credibilidade em Cabral – o governador que viajava nos aparelhos oficiais em bermudões.
Em números, o político que se reelegeu com 63% dos votos tem, agora, apenas 19% de índice de aprovação para sua gestão, caminhando para deixar o governo pela porta dos fundos, hostilizado em todas as manifestações realizadas na cidade – especialmente diante do seu apartamento no Leblon, cujo endereço se tornou uma praça de guerra, e na frente do Palácio Guanabara.
BLEFE DESCOBERTO - Eike, enquanto o amigo despencava em credibilidade, descreveu uma queda igualmente vertiginosa. Depois de elevar por meio de inúmeros fatos relevantes cada ação da sua holding OGX a quase R$ 20 na bolsa de valores, o empresário, vencido pelos fatos, viu o chão, com seus papéis cotados a R$ 0,50 dias atrás.
Na lista dos mais ricos do mundo da revista Forbes, Eike deixou o top 10 para cair abaixo do 100º posto e, agora, desaparecer definitivamente do rol estrelado. Com dívidas bilionárias com bancos públicos e privados estourando em sua porta, precisou colocar à venda jóias de sua coroa, como o jatinho de US$ 30 milhões. Desprestigiado, perdeu na Justiça o direito que havia obtido junto às autoridades do Rio de modificar o tombado Aterro do Flamengo em benefício do seu hotel Glória, cuja reforma teve de paralisar.
O mesmo Eike que frequentava o Twitter com mensagens otimistas sobre suas empresas viu seu império ruir ao anunciar o fim de seu programa de exploração de petróleo, pelo simples fato de não ter encontrado o ouro negro em quantidade suficiente para a exploração comercial. Emudeceu. O blefe fora aberto.
Depois de subirem juntas, as estrelas de Cabral e Eike vão se apagando ao mesmo tempo, num espetáculo vexaminoso para eles e tudo prejudicial para o Estado do Rio e a economia nacional. Ao decepcionar seus milhões de eleitores e milhares de investidores, o governador e o empresário devem desculpas e explicações que a soberba e prática de cada um não lhes permite dar. Ainda sofrerão muito, com os seus, pela arrogância que é mais um traço em comum de suas triste trajetórias.
ATÉ PREFEITURAS DA OPOSIÇÃO ADEREM AO MAIS MÉDICOS
Tropeçando na própria incompetência, Sérgio Cabral vem, ao longo de sua carreira política, acumulando derrotas que muitas vezes passam despercebidas. No quesito malandragem não resta dúvida de que Cabral é um dos mais espertos. Porém, em se tratando de estratégias que não sejam imediatistas, o sujeito comete erros políticos primários, principalmente por conta de sua prepotência. Nos faz lembrar o caso do ‘insuperável’ transatlântico inglês, com a qual ‘nem Deus podia’ segundo seus próprios construtores navais. E que se transformou no maior naufrágio da história. No Rio de Janeiro está acontecendo algo parecido com o caso do luxuoso transatlântico. Navegando com a soberba de construtor naval inglês, o Titanic do governador já tem dia e hora marcados para afundar.
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