Em 2007, quando renunciou à presidência do Senado para salvar o mandato de senador, Renan Calheiros tornou-se protagonista de um inquérito. Envolve a suspeita de uso de papéis frios para simular renda. Repassado há dois anos ao procurador-geral da República Roberto Gurgel, o processo estacionou.
O chefe do Ministério Público Federal nem apresentou denúncia nem arquivou o caso. Por quê? Gurgel mandou a assessoria dizer que o inquérito é gordo (43 volumes) e seu tempo, tomado pelo julgamento do mensalão, era magro. Agora, mais liberado, diz que decidirá o que fazer “nos próximos dias”.
Não é a primeira vez que Gurgel senta em cima de processo rumoroso. Reteve por três anos a Operação Vegas, na qual a voz de Demóstenes Torres soara pela primeira vez nos grampos da PF. Só se mexeu depois que foram penduradas nas manchetes as escutas da Monte Carlo, a segunda operação aberta contra Carlinhos Cachoeira e os sócios do ‘clube Nextel’.
Se tiver algo a informar ao STF contra Renan, é bom que Gurgel fale logo. Do contrário, pode casar-se com uma encrenca. Dentro de nove dias, o plenário do Senado se reúne para escolher o substituto de José Sarney. Sem dizer que é candidato, Renan é tido como favorito até pelas carpas que nadam no espelho d’água cavado defronte do prédio de Niemeyer.
Há cinco anos, Renan abdicou do trono do Senado depois que se descobriu que um lobista da empreiteira Mendes Júnior repassava R$ 12 mil por mês à jornalista Mônica Veloso, com que o senador tivera uma filha. No esforço para provar-se inocente, Renan alegou que dispunha de renda para bancar a pensão da ex-amante.
Levou à vitrine um papelório que supostamente atestaria a venda de cabeças de gado. Em relatório da época, a PF apontara indícios de inidoneidade dos documentos. Sem o título de presidente, Renan reteve o mandato. Mas a investigação policial seguiu seu curso… Súbito, sobreveio o dique de Gurgel. O doutor ainda não se deu conta. Mas seu tempo não passa. Já passou.
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