A indústria automobilística brasileira vai ampliar em 60% sua capacidade de produção até 2016, ganhando fôlego para fabricar nada menos do que 2 milhões de automóveis e comerciais leves a mais do que agora, o que fará a capacidade total do setor chegar a 5,3 milhões de unidades por ano. O salto será possível com investimentos de US$ 25 bilhões, incluindo os já inaugurados em 2012, segundo levantamento feito pela PricewaterhouseCoopers (PwC Brasil). O montante é uma demonstração clara do que se espera para o mercado nacional, que já é hoje o quarto maior do mundo e deve disputar o terceiro lugar em 2016, na avaliação de executivos do setor entrevistados pela KPMG.
A aposta no crescimento da demanda nos próximos anos ocorre depois de um 2012 que deve registrar a primeira queda anual na produção após nove altas seguidas. A projeção da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) é de redução de 1,5%. O número podia ser ainda pior, mas foi amenizado pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor — que passou a vigorar em maio e foi novamente renovado.
Renda em alta, taxas de juros menores e uma relação ainda baixa entre o número de habitantes e o de veículos são algumas das razões que sustentam as boas perspectivas para o mercado. Ainda assim, já cresce o debate se há risco de excesso de capacidade na indústria nacional — hoje uma questão restrita aos países desenvolvidos.
E esses investimentos ocorrem num momento de mudança para o setor: o Inovar Auto, novo regime automotivo, passa a vigorar em 2013. Quinze empresas já estão habilitadas no programa, segundo o Ministério do Desenvolvimento, e terão direito à isenção do aumento de 30 pontos percentuais do IPI que o governo anunciou. O novo regime passa a atrelar a redução do IPI a investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em eficiência energética.
— Temos mais de US$ 25 bilhões de investimentos previstos, de quem já estava no mercado e de entrantes. Acreditamos que o mercado continua a crescer no Brasil — afirma Marcelo Cioffi, sócio da PricewaterhouseCoopers (PwC Brasil).
Depois de uma queda de produção de 1,5% em 2012, por causa do recuo de 21,3% nas exportações e a concorrência com importados, a Anfavea estima que a fabricação de veículos — incluindo carros, comerciais leves, caminhões e ônibus — suba já em 2013.
Um dos principais indicadores apontados por analistas para comprovar o potencial de expansão da indústria automobilística no Brasil é a relação entre o número de veículos e o de habitantes. Em países ricos, essa taxa chega a ser de um habitante por veículo, como nos Estados Unidos (1,2), no Japão (1,7) e na Alemanha (1,8). No Brasil, a relação é de 6,1 habitantes por veículos, abaixo de nações como México (3,5) e Argentina (4).
A professora do Departamento de Administração da FEA/USP Adriana Marotti de Mello lembra que há diferenças regionais muito grandes ainda no país, mas há um potencial a ser explorado e a perspectiva é positiva.
— Há uma aposta forte no Brasil. Todas as grandes montadoras estão se instalando aqui prevendo crescimento das vendas — afirma o sócio-líder das áreas de Industrial Markets e Audits da KPMG no Brasil, Charles Krieck.
O cenário é positivo, porém não está descartado o risco de um excesso de capacidade — ou seja, um aumento de produção além do que a demanda por veículos pode absorver.
— Se a gente tiver em 2013 um ano parecido com o de 2012, algo em que não se acredita, teremos casos de excesso de capacidade em algumas montadoras. Mas muito longe do que se vê em países ricos — diz Krieck.
Como lembra Cioffi, os investimentos estão sendo feitos levando em consideração um cenário de manutenção de renda elevada, taxa de juros baixa e um prazo de financiamento adequado. Se o contexto for outro, diz, as montadoras terão que lidar com excesso de capacidade.
O sócio de consultoria da Ernst & Young Terco René Martinez não vê excesso de capacidade:
— O Brasil é um mercado estratégico e o que tenho visto são análises de negócios bem direcionadas. Globalmente, há capacidade acima da necessária, mas não consigo enxergar isso no Brasil.
O diretor da consultoria IHS Automotive no Brasil, Paulo Cardamone, lembra que, com a exigência de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e maior eficiência energética, o novo regime automotivo é visto por analistas como uma boa oportunidade para o setor ficar mais competitivo. Mas, também, as empresas terão que se adaptar às novas regras:
— Algumas montadoras vão ter que correr mais atrás, outras menos — disse.
Entre as que terão que se mobilizar mais para se adaptar ao novo regime, estão as montadoras que estão há menos tempo no país e que estão montando suas fábricas ou organizando suas estruturas. No grupo, estão Hyundai, Toyota, Chery, JAC Motors e Nissan. No time de quem sai ganhando, estão Fiat, Ford, Volkswagen, Mercedes, Scania, MAN.
Com o regime, as importadoras terão direito a IPI sem aumento para até 4.800 unidades por ano. Só que esse limite acaba prejudicando as empresas que vendem carros mais populares e, por isso, em volume maior.
— As perspectivas são muito positivas, mas temos que lembrar que o novo regime traz desafios importantes, que vão exigir adaptação das empresas — destaca Martinez.
O Globo
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