sábado, 28 de dezembro de 2013

"Meu propósito, dona Kátia, é levar a senhora a júri popular", diz mãe de irmãos mortos em Ondina

A enfermeira Marinúbia Gomes, mãe de Emanuel e Emanuelle, respondeu neste sábado (28) ao vídeo publicado por Kátia Vargas, acusada de ter matado os irmãos em um acidente no bairro de Ondina, no último mês de outubro. "Tem uma parte que ela fala assim, que não sabe porque que Deus fez isso com ela, eu também não sei porque é que Deus permitiu que meus filhos fossem tirados dessa forma", diz Marinúbia, em fala à TV Bahia.

"O meu propósito hoje, dona Kátia, se a senhora estiver me vendo, é de levar a senhora a júri popular, para que a verdade seja apurada. Eu não tenho interesse nenhum em condenar a senhora, se a senhora for inocente, mas tenho interesse de levar a todas as instâncias da verdade e que Deus esteja acima de tudo. Eu peço a Deus que Ele assuma essa história e se a senhora for inocente, que não seja condenada por isso. Mas se a senhora fez alguma coisa, com intenção ou sem intenção, que seja condenada por isso", diz ainda a enfermeira.

Marinúbia assistiu ontem à noite ao vídeo divulgado pela assessoria da médica Kátia Vargas. Foi a primeira fala pública da médica desde o acidente - ela ainda não havia comentado o caso. A médica diz ser inocente e reconhece o sofrimento dos familiares dos jovens. "O acidente é trágico mais para ela (mãe de Emanuel e Emanuelle) do que para mim. Apesar do sofrimento, eu estou viva, mas sei que esta dor não tem preço, não tem tamanho, não tem tempo pra passar. Não sei nem se passa". O depoimento esperado por dois meses e 17 dias foi dito em apenas 2 minutos e 50 segundos. A médica Kátia Vargas, acusada de provocar o acidente que causou a morte dos irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes, no bairro de Ondina, em outubro deste ano, enfim quebrou o silêncio. Em uma carta e um vídeo editado, distribuídos ontem pela assessoria da acusada para sites, TVs e jornais, Kátia Vargas se defende e nega ter cometido o crime.

Visivelmente abatida e aparentemente sob efeito de medicamentos, a médica diz acreditar na Justiça e garante que seu carro sequer tocou na moto em que os irmãos estavam. Eles morreram após a motocicleta se chocar contra um poste em frente ao Ondina Apart Hotel. "Eu não posso assumir algo que não fiz. A verdade existe, a verdade tem que ser provada, tem que aparecer”, afirmou Kátia. No vídeo, que dá a impressão de ter sido gravado com duas câmeras, a médica diz ter certeza que não matou Emanuel e Emanuelle. “Porque, em momento algum, eu toquei naquela moto. Eu sei que não matei aqueles meninos, que não fui responsável pela morte deles”, enfatiza.

Mãe 
No momento mais marcante da gravação, Kátia se dirige à mãe de Emanuel e Emanuelle, Marinúbia Gomes. Disse que gostaria de falar com ela olho no olho. “Se eu pudesse falar para a mãe desses meninos, olho no olho, eu queria que ela soubesse que eu não matei esses meninos, que eu não tive culpa neste acidente”, afirmou, garantindo se solidarizar com a família das vítimas. “Foi um acidente trágico, mais para ela do que para mim. Apesar do sofrimento, eu tô viva. Mas sei que essa dor não tem preço, não tem tamanho, não tem tempo para passar, não sei nem se passa. Mas eu queria que ela soubesse que eu me solidarizo com ela, que eu rezo pela família dela”, afirma Kátia Vargas, demonstrando dificuldade na fala.

A médica ainda repudia o fato de seus filhos e seu marido terem sido expostos na mídia e as ameaças de morte que sofreram, de acordo com ela. “Meus filhos foram expostos à mídia, apareceu fotos deles, inclusive na televisão, apesar de serem menores de idade. Meu marido foi exposto, minha clínica foi ameaçada de depredação, recebemos ameaças de morte”. “Eu acredito que a Justiça há de ser feita. E se eu perder a fé na Justiça, tanto na Justiça dos homens quanto na Justiça divina, eu acho que você perde a fé na vida. Eu tenho muita fé que a verdade vai aparecer. Deus está me fazendo passar por isso por algum motivo, mas eu sei que no fim a verdade vai aparecer”, declara a acusada. Por fim, a médica diz ter “morrido” depois do acidente. “A Kátia antes daquele acidente era uma. Morreu. Morreu junto com aqueles meninos”, define.

Assessoria 
O advogado de defesa da médica, Sérgio Habib, garantiu ontem que a gravação não faz parte da estratégia da defesa. “Não tive participação na gravação desse vídeo. Esse foi um trabalho da assessoria, que decidiu publicar uma gravação dela”, assegurou Habib. O marido de Kátia Vargas, o médico Paulo Henrique Brito, preferiu não comentar o conteúdo do material. Apenas confirmou se tratar de uma recomendação da assessoria, que, por sua vez, disse que o vídeo é “uma satisfação à imprensa e à sociedade”. “Como ela não tinha condições de falar em uma entrevista coletiva, a assessoria optou por um vídeo gravado, onde ela pudesse se defender com cuidado, mostrando a versão dela”, explicou Paulo Henrique Brito.

No final de novembro, ele chegou a declarar que Kátia foi crucificada. “Eu sempre peço que as pessoas não pré-julguem. A delegada-chefe simplesmente condenou, executou minha esposa. Pegaram ela para Cristo”, disse ele, na época. O promotor David Gallo, que acompanha o caso representando o Ministério Público, não foi localizado para comentar o vídeo distribuído pela assessoria de Kátia Vargas. Já o advogado da família de Emanuel e Emanuelle, Daniel Keller, disse que o vídeo se trata de uma gravação orientada pelo advogado de defesa. Para Daniel, uma tentativa de vitimizar a médica. "A estratégia deles é transformar ela em uma vítima. Já sabendo que ela vai a júri popular, estão construindo isso para sensibilizar os jurados”, afirmou Keller.

O advogado chama a atenção, entretanto, para o que ele considera uma mudança na versão da médica. “Na versão dita em juízo, doutora Kátia afirmou que não lembra do que aconteceu e ouviu um barulho antes de bater. Agora ela diz que não bateu na moto. Quer dizer, está claramente sendo conduzida pela defesa, em uma gravação pensada para o julgamento”.

Justiça 
Baseada em imagens da Secretaria da Segurança Pública (SSP), depoimento de testemunhas e dos laudos do Departamento de Polícia Técnica, a polícia fechou o inquérito e o Ministério Público denunciou Kátia por duplo homicídio triplamente qualificado. A oftalmologista foi presa no dia 17 de outubro e, 58 dias depois, deixou o Complexo Penintenciário Feminino da Mata Escura. Kátia depôs pela primeira vez no dia 12 de dezembro. O mesmo juiz que concedeu seu alvará de soltura, Moacyr Pitta Lima, decidiu que ela irá a juri popular. A defesa ainda recorre da decisão e pede nulidade do processo. “A Justiça está em recesso até 6 de janeiro. Só depois disso vamos saber se o recurso foi aceito ou não”, explicou o advogado Sérgio Habib.

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