terça-feira, 29 de maio de 2012

Lula, um cidadão livre tem o direito de dizer o que bem entende?

No melhor estilo Alberto Dines, o artigo a seguir traz a discussão que faltava sobre o imbróglio entre a suposta chantagem do ex-presidente Lula e o ministro do STF Gilmar Mendes.
Afinal o ex-presidente Lula, agora sem exercer nenhum cargo politico, portanto um cidadão comum, teria que ser arguido sobre a liberdade dele dizer o que quer e na hora que quer?
Digamos que o cargo exercido anteriormente pelo ex-presidente lhe confira algumas responsabilidades insofismáveis, mas isso não é nunca foi, empecilho para que qualquer ex-presidente possa exercer seu pleno direito de liberdade de expressão.
Outra pergunta que não quer calar remonta à fama de memória curta do povo brasileiro. Jobim é o que consegue segurar a língua até contra si mesmo e Gilmar já foi flagrado em histórias mal contadas, como a do grampo sem áudio entre Mendes e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) tinham sido grampeados, porém o grampo nunca existiu.
Tirando essa observação, outras espalhadas pela mídia livre, questiona a razão da autoridade do ministro Mendes ter esperado um mês para denunciar o ex-presidente como “chantagista” e por que excelentíssimo Ministro do STF não formalizou sua denuncia ou deu voz de prisão ao ex-presidente Lula. Fica ai a pergunta dos cidadãos desse país para a surpreendente revista Veja, e ao Gilmar Mendes?
Veja o artigo de Alberto Dines:
Uma conversa para entrar na história
Por Alberto Dines - Veja continua em cartaz. E também o seu Manual de Estilo. A matéria da edição 2271 (data de capa 30/5, pág. 62), em que revela uma suposta chantagem do ex-presidente Lula da Silva sobre o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, para adiar o julgamento do mensalão, é um clássico do seu repertório de denúncias.
Um repórter ou analista político da escola tradicional, pré-Facebook, teria eliminado os dois enormes parágrafos iniciais e começado no terceiro. Resultaria mais impactante. E veraz.
O enorme “nariz de cera”, além de antiquado, revela uma disposição panfletária que só os leitores muito desligados não identificarão como tentativa de indução. Aliás, desnecessária: o teor da versão do ministro Gilmar Mendes sobre o seu encontro com o ex-presidente no escritório do ex-ministro Nelson Jobim é tão surpreendente e explosivo que torna supérfluos todos os expedientes e recursos dramatizadores usados pelo semanário.
Gilmar Mendes revela uma memória prodigiosa, as frases de Lula que registrou e repassou aos repórteres de Veja indispõem o ex-presidente com três ministros da suprema corte (Joaquim Barbosa, Carmen Lúcia e Ricardo Lewandowski) e um ex-ministro também chefe da Comissão de Ética Pública da Presidência (Sepúlveda Pertence). Adicionadas à tentativa de coagir moralmente o interlocutor Gilmar Mendes, também ministro do STF, constituem inédito e inaudito aperto no Judiciário. Mesmo que Lula, sem qualquer mandato ou cargo político, seja livre para dizer o que pensa.
Reportagem, reportagem - Ouvido por Veja, o anfitrião Nelson Jobim confirmou o encontro e acrescentou que as partes da conversa que presenciou “foram em tom amigável”. Isso não está em questão. Gilmar Mendes procurou ser mais preciso ao classificá-la como “pouco republicana”, segundo o experimentado repórter político Jorge Bastos Moreno na edição do Globo de segunda-feira, 27/5 (ver “Lula e Gilmar Mendes: conversa errada, no local errado, com pessoa errada”).
Àquela altura, de acordo o mesmo repórter, Gilmar Mendes teria “tirado a toga” (isto é, soltado a franga) ao destacar o papel do araponga Dadá (o ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Martins de Araujo, braço direito de Carlos Cachoeira) na operação Satiagraha.
Se trabalhasse suas matérias com um pouco mais de cuidado, Veja teria oferecido uma versão mais consistente, mais saborosa e até mais trepidante do encontro de bambas. Se não estivesse tão aflita e afoita em colocar o mensalão nas manchetes antes de iniciado o julgamento, teria refletido que um ex-presidente da República tem o direito de dizer o que bem entende. Na hora em que desejar. Não tem poderes, tampouco limitações.
O bom jornalismo tem limitações. Parafraseando Gertrude Stein e suas rosas, “reportagem é reportagem, é reportagem, é reportagem”.

Portal Câmara em Pauta

2 comentários:

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  2. Exame de voz destaca \"segmentos fraudulentos\" em fala do ministro Gilmar Mendes
    http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2012/05/29/exame-de-voz-destaca-segmentos-frauduluentos-em-fala-do-ministro-gilmar-mendes.htm

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