Documentos oficiais obtidos pela revista Carta Capital junto ao Arquivo Nacional, em Brasília, mostram a colaboração do cardeal primaz do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Salles, com agentes da ditadura militar no Brasil. A reportagem intitulada Dom Eugênio, agente duplo traz trechos de um relatório de 14 de março de 1976, no qual o I Exército do Rio de Janeiro relata ao Serviço Nacional de Informações (SNI) como Salles conteve a intenção da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) de promover uma campanha contra a repressão.
“A CNBB pretendia fazer declarações sobre as atuais prisões, envolvendo elementos do PCB, no RJ/RJ. Dom Eugênio Salles conseguiu esvaziar o movimento da CNBB. Irah a Roma ET, no seu retorno ao país, farah declarações favoráveis”, diz o documento. À época, vários membros da CNBB se posicionavam contra o regime militar, denunciando situações de tortura e abuso, tanto que a entidade endereçou uma carta ao general Ernesto Geisel em 24 de setembro de 1975, na qual pedia esclarecimentos sobre o paradeiro de presos políticos.
Para auxiliar nesse fim, pediram que dom Eugênio conversasse com a esposa do fotógrafo, Elaine Cintra Machado, sugerindo que procurasse o comandante do I Exército para obter informações sobre seu marido. Ainda segundo o documento, o arcebispo deveria manter oculta sua proximidade com os agentes da ditadura. “Dom Eugênio Salles, por solicitação do CMT do I EX, fazendo transparecer ser iniciativa sua, aconselhou a Elaine que procurasse o CMT do I EX, dando a crer, também que soh o Exército poderia cooperar com ela.
” O objetivo era “desencadear de imediato uma ação psicológica sobre a esposa de Luiz Paulo Machado, Elaine Cintra Machado, com base na “carta-repúdio”.De acordo com a matéria, após a prisão de jornalistas ligados ao PCB, foram reveladas operações do partido no Rio e, com as informações, os militares fizeram com que o fotógrafo Luiz Paulo Machado redigisse uma carta de repúdio ao comunismo na madrugada de 13 para 14 de março de 1976, demonstrando arrependimento pela militância. Mas os militares pretendiam, de acordo com o documento da Operação Grande-Rio, “buscar intimidar ou desencorajar livre manifestação subversiva VG especialmente por meio de prisões de subversivos selecionadas por suas atuações destacadas”.
A reportagem lembra ainda que Dom Eugênio teria negado ajuda a militantes ou a seus familiares que lutavam contra a ditadura. Um dos casos citados é o da estilista Zuzu Angel, que teve o filho Stuart torturado e morto pelo Serviço de Inteligência da Aeronáutica. Sua filha, a colunista social Hildegard Angel, disse que o cardeal “fechou os olhos às maldades cometidas durante a ditadura, fechando seus ouvidos e os portões do Sumaré aos familiares dos jovens ditos ‘subversivos’ que lá iam levar suas súplicas, como fez com minha mãe”.
Revista Fórum
PRECONCEITO E FALTA DE INFORMAÇÃO QUE RIMA COM IGNORÂNCIA
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