A Mocidade Alegre é tricampeã do Grupo Especial do carnaval de São Paulo. O título foi garantido na tarde desta terça-feira (4), com a apuração das notas. É o segundo tricampeonato da história da escola -- o outro tinha sido entre 1971 e 1973 --, que agora soma dez títulos do carnaval paulistano. A disputa foi décimo a décimo até a leitura das notas do antepenúltimo quesito – evolução. Neste critério, a avaliação dos juízes foi bastante rigorosa, mas a Mocidade não perdeu pontos, deixando as principais concorrentes para trás. Depois disso, as notas máximas garantidas nos últimos quesitos – alegoria e harmonia – só confirmaram o tricampeonato, com 269,7 pontos. Aliás, por falar em tri, a vice-campeã também foi a mesma dos dois últimos anos: a Rosas de Ouro.
A tradicional escola da Zona Norte foi a terceira a desfilar na madrugada de sábado (1º) para domingo, no segundo dia de apresentações no Anhembi. Ela entrou logo depois da Gaviões da Fiel, que dominava a arquibancada, e mesmo assim conseguiu causar grande impacto com o enredo "Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar".
Assinado pelos carnavalescos Sidnei França e Márcio Gonçalves, o desfile encantou o público ao falar sobre as diferentes maneiras de vivenciar a fé.
Mergulhando na religiosidade de várias partes do mundo, a escola vestiu várias de suas alas com elementos de religiões como o judaísmo, o candomblé, o islamismo, o espiritismo e crenças indígenas como a pajelança cabocla, as benzedeiras e os curandeiros. "Oh pai, conduz teus fiéis a buscar / na eternidade encontrar, a salvação", diz um do versos do samba-enredo da Mocidade. A superstição também foi levada à avenida, com componentes fantasiados de gato preto, horóscopo e numerologia. "Arruda pra benzer / ervas pra curar / tem reza forte da maria benzedeira", cantaram os 3.500 integrantes no refrão.
A comissão de frente coreografada pelo estreante Robério Theodoro representou o poder da sedução. Parte dos bailarinos entrou vendada na avenida, indicando que a fé muitas vezes pode ser cega. A evolução foi feita seguindo comandos por voz do coreógrafo. A coreografia ensaiada foi além da comissão de frente. Em um movimento coordenado e inusitado, todos os integrantes da escola se ajoelharam em plena avenida durante uma das paradas da bateria e comoveram o público que lotou a arquibancada. Os 240 ritmistas da bateria foram comandados por Marcos Rezende, o Mestre Sombra, que também é vice-presidente da escola. A rainha da bateria foi Aline Oliveira, ex-ritmista da escola, pelo terceiro ano consecutivo.
O abre-alas trouxe os elementos que representam a fé, e como ela pode levar as pessoas a mudar suas vidas. A segunda alegoria da Mocidade apresentou um templo, a construção elaborada pelos homens desejosos de ter um lugar onde possam professar sua fé. O carro foi montado com objetos de várias religiões, como a Torá e a Bíblia, e os destaques representaram diferentes tipos de sacerdotes e homens de fé.
O terceiro carro foi inspirado no equilíbrio entre o mundo terreno e o resto do universo, no qual se sustentam as crenças. Já a alegoria seguinte, sobre o mercado da fé, mostrou outro lado da religião: a comercialização de produtos religiosos e o proveito que alguns líderes de igrejas tiram da fé alheia, na forma da coleta do dízimo. O último carro alegórico da Mocidade Alegre inspirou o público a buscar, dentro de si, a força da luz interior para conseguir superar as barreiras e obstáculos que a vida apresenta.
Com evolução impecável, a escola viveu momentos de tensão apenas nos últimos segundos do desfile, já que o último carro passou pela linha de chegada poucos segundos antes de estourar o tempo máximo.
Rebaixadas
O quesito evolução também causou uma reviravolta na briga contra o rebaixamento. A Nenê de Vila Matilde vinha em último lugar desde a leitura do primeiro quesito – fantasias –, mas se recuperou na evolução. Leandro de Itaquera e Pérola Negra foram muito mal no quesito e terminaram nas duas últimas posições – rebaixadas ao Grupo de Acesso.
G1-São Paulo
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