quarta-feira, 23 de julho de 2014

EMPRESA DECIDE INTERROMPER USO DA HIDROVIA DO RIO SÃO FRANCISCO

Assoreamento do rio e vazão reduzida vêm impedindo a navegação

O que havia sido anunciado desde o início de 2014 se concretizou na semana passada. A Icofort, empresa especializada no transporte de caroço de algodão e a última a utilizar a hidrovia do rio São Francisco, decidiu suspender, temporariamente, as atividades no modal. A medida, provocada pelo assoreamento do Velho Chico, bem como a vazão praticada atualmente de 1.100 m³ por segundo foram fatores decisivos para a decisão, visto que tornaram impossível a navegação.

O impacto será sentido de forma imediata, conforme avisa o diretor de Logística da Icofort, Marcelo Flávio Antunes Teixeira. “Toda a nossa produção passará a ser escoada por via terrestre, representando aumento de danos ao meio ambiente, necessidade de investimentos das rodovias, maior risco de acidentes, sem falar no custo, que irá onerar o produto final entre 20% e 30%”, explica ele, lembrando do impacto social, pois pelo menos 50 trabalhadores serão desligados de suas funções. A suspensão das atividades da Icofort no São Francisco estava sendo ventilada desde janeiro, mas a decisão foi postergada desde então devido à interferência do governo federal.

Através do Ministério dos Transportes, com o apoio do Ministério da Integração, houve o início do trabalho de dragagem no leito do rio, na região de Juazeiro (BA). Sem isso, os trabalhos de escoamento da produção de caroço de algodão teriam parado alguns meses antes. A suspensão temporária das atividades da hidrovia também representa uma ameaça ao governo federal, pois, caso os trabalhos sejam suspensos definitivamente, serão necessários altos investimentos para devolver a normalidade a esse modal. De acordo com estimativas da própria Icofort, pelo menos R$ 50 milhões precisarão ser investidos.

O alto valor se deve à necessidade de construção de novos estaleiros, de novas barcaças e empurradores, equipamentos essenciais para o funcionamento de grandes estruturas para transporte de produtos em grande escala. “Ainda iremos manter uma estrutura mínima de operação, enquanto acontece a dragagem do rio São Francisco. Depois disso, avaliaremos a viabilidade ou não. Caso seja possível, deveremos retomar as atividades em janeiro”, estima Marcelo Flávio Antunes Teixeira. Apesar disso, ele se mostra pouco confiante.

Primeiro, segundo ele, pelo fato de a prioridade do governo federal ser a geração de energia, na contramão da legislação, que determina atenção primordial ao abastecimento humano e o respeito aos usos múltiplos das águas. Outro fato desanimador é a ausência de chuvas. Atualmente, devido à defluência praticada de 1.100m³/s, o nível da represa de Sobradinho está em 45%, com uma baixa diária de 0,2%. De acordo com cálculos de técnicos da própria empresa, se não chover até o início de novembro esse nível estará entre 20% e 25%.

CBHSF lamenta
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, lamenta a decisão e compreende a situação da empresa. “Nas reuniões das quais participamos na sede da Agência Nacional de Águas [ANA] para debater a apresentação dos relatórios de acompanhamento do setor elétrico, temos alertado sempre para a realidade do rio, de que ele está morrendo. É um paciente na UTI, que precisa de sangue e ainda lhe tiram o pouco que resta”, compara Miranda.

A dramática situação enfrentada pelo Velho Chico tem sido relatada em todas as reuniões com o setor elétrico e a ANA. Na mais recente, realizada na semana que passou, o presidente do CBHSF voltou a cobrar do setor elétrico compensações para os usuários que estão sendo duramente prejudicados com as vazões reduzidas. Mesmo diante de todos os problemas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (NOS) cogitou solicitar autorização para praticar a defluência de 900m³/s, mas a proposta foi retirada de pauta pelo presidente da Agência Nacional de Águas.

O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco manteve firme a posição contrária do colegiado que representa. Ele alertou que tal medida necessitaria de estudo de avaliação de impacto ambiental e outorga especial da diretoria da ANA para ser praticada, mesmo que limitada aos períodos chamados de “carga leve”, ou seja, de zero hora às 7h e aos sábados e domingos.

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