Agora falta pouco, seis ou sete meses. É o tempo estimado pelo pesquisador Carlos Antonio Fernandes Santos, da Embrapa Semiárido, para concluir estudo da mais promissora tecnologia de controle do nematoide na cultura da goiabeira: uma planta híbrida que mistura características da goiabeira e do araçazeiro. Os resultados experimentais são muito animadores nas várias fases da pesquisa: primeiro, em casa de vegetação com inoculação artificial do verme, por mais de um ano; depois, durante dois anos e meio, em terreno infestado do nematoide no solo. Em todo este período as plantas híbridas se desenvolveram bem, sem manifestar qualquer sintoma de ataque, como galhas nas raízes.
No momento, a equipe de pesquisadores formada por Carlos Antonio, José Egidio Flori e José Mauro da Cunha e Castro, segue monitorando a resistência desse material em propriedades com histórico de elevada incidência de nematoide: cinco, no submédio do vale do rio São Francisco e três no município de São João da Barra (RJ). Estão neste trabalho há quase oito meses. O objetivo é usar esse híbrido como porta-enxerto das variedades comerciais, como Paluma e Pedro Sato. Início das pesquisas - Carlos Antonio fala com otimismo do trabalho prestes a ser disponibilizado para os agricultores. “Buscamos uma técnica ainda não tentada pelos vários grupos de pesquisa empenhados, em todo o país, na superação desse grave problema fitossanitário, responsável por dizimar mais de 50% da área cultivada com goiaba nas áreas irrigadas de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA)”, afirma.
“Ao invés de investigarmos a aplicação de inseticidas, métodos de controle biológico e mesmo o uso de porta-enxerto de Araçá, como vinha sendo feito, fomos a vários lugares do país, do Rio Grande do Sul a Roraima, e coletamos cerca de 160 tipos de goiabeiras e de araçás, e passamos a avaliar o grau de tolerância ou resistência ao nematoide Meloidogyne enterolobii”, explica. Segundo o pesquisador, a avaliação desses materiais já no ano de 2009, mostrou que todos os tipos de goiabeira eram suscetíveis ao nematoide, enquanto plantas de araçazeiros eram resistentes. Uma delas, originária de Roraima, foi usada em cruzamentos artificiais com goiabeira. O híbrido de Psidium (goiabeira x araçazeiro) possui 50% do genoma de goiabeira, minimizando a incompatibilidade, entre as quais o baixo porte do araçazeiro. O híbrido apresenta ainda planta de grande vigor, conhecido como vigor de heterose, que o torna ideal para ser usado como porta enxerto, explica o pesquisador.
Cruzamentos - Com recursos da Embrapa, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Comunidade Europeia – por meio do projeto internacional Guavamap -, a equipe se dedicou a fazer cruzamentos entre as duas espécies de Psidium. Tecnicamente, isto se faz com a retirada da parte masculina da flor de goiabeira, seguida da polinização na parte feminina com pólen do araçazeiro, comprovadamente resistente ao nematoide. Para surpresa da equipe, plantas de um dos cruzamentos apresentaram resistência em testes de casa de vegetação já na primeira geração, sugerindo que a resistência é de herança simples. Este foi um trabalho realizado pela doutoranda da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Soniane Rodrigues da Costa, sob a orientação de Carlos Antonio.
De 1.200 cruzamentos feitos na primeira fase da pesquisa, no Laboratório de Genética Vegetal da Embrapa Semiárido, obteviveram sucesso em apenas cinco. Um deles, porém, resultou no híbrido que está sendo testado em áreas de plantios comerciais. Este trabalho continua e envolve outras espécies de araçazeiros. Os pesquisadores buscam aumentar as fontes de resistência ao nematoide, como forma de prevenção à possível quebra de resistência do atual híbrido por outros ecotipos do nematoide. “Os agricultores estão muito próximos de virar a página que desde os anos 90 registra um recuo de mais de 50% na área de plantio com goiaba, que reduziu mais de 7 mil postos de trabalho e causou prejuízos de mais de R$ 200 milhões. O controle genético, como o que estamos apresentando, é superior a todos os outros métodos, pois não implica em gastos recorrentes em insumos para cultivo da goiabeira”, afirma o pesquisador da Embrapa.
Ascom Embrapa Semiárido Foto: Marcelino Ribeiro
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