Uma missão argentina que integra o Prosap (Provincial Agriculture and Development Project) – programa que conta com grandes investimentos do governo argentino para a agricultura – visitou nesta terça (1º) e na segunda (31) perímetros de irrigação da Companhia de Desenvolvimento dos Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) em Pernambuco e na Bahia. O objetivo foi conhecer o modelo brasileiro de agricultura irrigada para replicá-lo na Argentina.
“O governo da Argentina planeja aumentar a irrigação para duplicar a área que hoje é de 2 milhões de hectares. Até 2020 queremos atingir 4 milhões de hectares e a experiência que é uma marca no desenvolvimento dessa região, iniciada há 30 anos, é o modelo brasileiro que viemos conhecer aqui. É uma decisão de governo, um desenho de políticas públicas que promoveu tudo que aqui estamos visitando”, disse Jorge Neme, coordenador executivo do Prosap.
O roteiro da visita teve início no perímetro de irrigação Nilo Coelho, em Petrolina (PE), com uma reunião no Distrito de Irrigação Nilo Coelho (DINC), que fica em um dos núcleos irrigados do perímetro. O chefe da Unidade de Produção da Gerência de Irrigação da Codevasf em Pernambuco, Marcelo Mergulhão, o chefe de obras do Projeto Pontal, Leonardo Lyra, e o coordenador do programa Pontal Sequeiro, Cláudio Baltazar, acompanharam a visita.
O gerente de operação do DINC, Humberto Atrunátegoi, que é peruano, fez uma explanação sobre o perímetro – que começou a operar em 1984 e hoje é o maior produtor de frutas do Brasil, principalmente uva e manga. O Nilo Coelho ocupa área de mais de 20 mil hectares irrigados e gera cerca de 90 mil empregos na região, entre diretos e indiretos.
A missão argentina pôde conhecer de perto a área do produtor Francisco Joaquim da Silveira, no Núcleo-1 do Nilo Coelho, e teve a oportunidade de ouvir o relato de um produtor bem-sucedido numa região semiárida que se tornou celeiro da fruticultura irrigada no Brasil e conhecida internacionalmente.
O agricultor contou para o coordenador do Prosap que chegou a sair da região para tentar melhorar profissionalmente, mas voltou para investir na fruticultura irrigada. “Estou aqui há 18 anos. Quando voltei adquiri essa área com uma irmã. Não me arrependo”, relatou Francisco Silveira, que produz uva, coco e goiaba numa área de 28 hectares.
A visita seguinte foi ao Projeto Pontal, que está em fase de implantação em Petrolina (PE). O coordenador de obras do Pontal, Leonardo Lyra, explicou que o novo modelo adotado pelo governo federal, por meio da Codevasf, deverá servir de exemplo para futuros perímetros de irrigação implantados pelo Companhia nos estados onde atua.
Dividido entre Portal Sul e Norte, a área de 8 mil hectares será operada pelo sistema de Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), onde uma empresa escolhida por meio de seleção pública administrará todo perímetro, sendo 25% da área destinada a pequenos produtores nativos da região do Pontal.
Ainda no Pontal, o coordenador do Prosap conversou com criadores que ocupam lotes do programa Pontal Sequeiro e conheceu a experiência do Pulmão Verde – uma das atividades do programa que visa aproveitar uma área que não serviria para a fruticultura irrigada, mas que pode ser utilizada para o plantio de culturas forrageiras como sorgo, milho, feijão e ainda mandioca para a comercialização.
A iniciativa atende 90 famílias e a forragem alimenta cerca de 150 animais por colheita, como os caprinos do produtor Paulo Amorim, um dos pioneiros no Pontal Sequeiro.
A última parte da visita da comitiva argentina aos perímetros irrigados de Petrolina foi ao viveiro de mudas da Arborem, empresa que ganhou a licitação para administrar o Pontal Irrigado. Na área serão plantadas culturas como caju, goiaba, coco, uva e manga.
Nesta terça, pela manhã, a visita foi a uma experiência vitivinícola do Vale do São Francisco, na área da Vinícola Miolo, localizada em Casa Nova (BA) – uma das seis em operação na região que integra ainda os municípios pernambucanos de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, responsáveis pela produção de vinhos finos, espumantes e sucos de uva natural, com média de 30 milhões de litros produzidos/ano.
À tarde, a visita foi ao perímetro de irrigação Tourão, em Juazeiro (BA), onde foi possível conhecer o funcionamento do perímetro que tem como foco a produção de cana-de-açúcar e é sede da Agrovale, uma das maiores usinas produtoras de açúcar do Brasil.
Prosap
O Provincial Agriculture and Development Project (Prosap) conta com financiamento do Banco Mundial (Bird) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) orçado em mais de U$ 460 milhões, conforme informações do site institucional do programa. A intenção do Banco Mundial, por meio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), é fazer com que o programa possa expandir a agricultura em áreas resistentes a mudanças climáticas no território argentino, que tem 72% de sua área semiárida.
“Através do Prosap queremos atingir regiões mais atrasadas e que possam se desenvolver com a agricultura irrigada. Estamos avançando sobre a região semiárida. A Argentina é conhecida pela pampa úmida, pela vaca, trigo, pelo milho, mas a maior parte do país é semiárida”, acrescentou Neme.
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