segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Pré-sal criará 87 milhões de vagas em 30 anos, estima FGV

Marcado para amanhã, o leilão da área de Libra, o primeiro do pré-sal sob o regime de partilha, dará mais fôlego à economia brasileira. Estima-se que os investimentos no pré-sal para os próximos 30 anos movimentem US$ 1,7 trilhão (cerca de R$ 3,7 trilhões) no país — considerando efeitos diretos na cadeia produtiva de petróleo e gás, impactos indiretos em outros segmentos da economia e aqueles induzidos pelo aumento da renda dos trabalhadores. Para se ter uma ideia do que representa esse montante, o PIB (conjunto de bens e serviços produzidos) do país em 2012 atingiu R$ 4,4 trilhões. No mesmo horizonte de 30 anos, estima-se a criação de 87 milhões de empregos, também com impactos diretos, indiretos e efeitos da esperada alta de renda. Libra será fundamental nesse futuro.

O cálculo considera as previsões de investimentos para o pré-sal do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) e seus impactos macroeconômicos apurados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). O IBP estima que o pré-sal receberá diretamente US$ 700 bilhões em recursos que serão aplicados na fase de exploração e desenvolvimento da produção (o chamado capex). A maior parte desses recursos está concentrada nos primeiros sete anos de atividade. Outros US$ 700 bilhões serão consumidos ao longo da produção do campo (o chamado opex).

A conta trilionária se baseia em uma reserva do pré-sal estimada de 50 bilhões a 60 bilhões de barris de petróleo, incluindo as áreas onde já houve descobertas e as que ainda serão descobertas. O volume projetado para o pré-sal na área em que já houve descobertas soma 15,4 bilhões de barris. Há ainda Libra, na Bacia de Santos, com reservas estimadas entre oito e 12 bilhões de barris. Para se ter uma ideia do tamanho da potencial riqueza que existe sob o sal, a reserva provada brasileira, que considera basicamente o petróleo encontrado no pós-sal, soma hoje 15,7 bilhões de barris.

Segundo João Carlos de Luca, presidente do IBP, dos US$ 700 bilhões previstos para o desenvolvimento de plataformas e atividades de perfuração de poços, US$ 100 bilhões irão para Libra e outros US$ 100 bilhões estão sendo direcionados para as áreas que já iniciaram a produção, como Lula (Bacia de Santos), Baleia Azul e Jubarte (ambas na Bacia do Espírito Santo). O restante, diz, é o investimento mínimo para as áreas que já foram mapeadas, mas ainda não licitadas:

— Se pensarmos nos custos de manutenção dessas unidades, que ocorrem ao longo de 30 anos, podemos pensar em mais US$ 700 bilhões como efeito na cadeia de serviços. Por isso, os efeitos serão permeados em toda a indústria naval e de equipamentos submarinos. Depois, quando já estiverem produzindo, é a vez de segmentos como o de helicópteros, barcos de apoio, alimentação e hotel.

Foi sobre esse efeito dominó na economia que se debruçou o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Ibre/FGV. Partindo de premissas como custo operacional e cotação do barril de petróleo, ele concluiu que, para cada R$ 1 bilhão investido no capex, há uma injeção na economia de cerca de R$ 2,45 bilhões. Aplicando essa relação aos US$ 700 bilhões estimados pelo IBP para a fase exploratória e de desenvolvimento do campo, chega-se ao US$ 1,7 trilhão de impacto na economia nacional. No cálculo de criação de empregos, o economista incluiu na conta ainda os gastos operacionais.

— Sem dúvida, o setor de petróleo vai crescer em importância. Mas a economia do Brasil não é só petróleo. Os números impressionam, mas esses efeitos são diluídos ao longo do tempo. Mesmo em relação à criação de vagas, temos que lembrar que a indústria petrolífera é intensiva em capital, não em mão de obra — pondera Holanda Barbosa Filho.

A corrida para explorar o pré-sal já começou, com encomendas de 29 sondas de perfuração e 28 plataformas de produção. Entre 2013 e 2017, a Petrobras e os seus parceiros vão investir em Exploração & Produção no pré-sal US$ 105 bilhões. Um dos principais projetos são as sondas. Segundo a Sete Brasil, empresa contratada pela estatal, serão investidos US$ 25 bilhões, dos quais US$ 15 bilhões aplicados na indústria brasileira até 2020. O projeto envolve ainda cinco estaleiros nacionais, dos quais dois em construção, como o Jurong, no Espírito Santo, e o Paraguaçu, na Bahia.

— As sondas serão entregues de forma escalonada. A primeira será em 2015. A Petrobras vai usar em qualquer uma das áreas. Pode ser Libra ou outra. Os efeitos serão sentidos em toda a cadeia. Esse investimento já começou, com a construção dos estaleiros e a criação de fábricas. Dos US$ 15 bilhões, cerca de US$ 10 bilhões vão para a cadeia de fornecedores, como a de redes e cabos elétricos e tintas — detalha João Carlos Ferraz, presidente da Sete Brasil.

O projeto das 29 sondas — 28 serão afretadas para a Petrobras e uma será usada pela Sete Brasil no mercado livre — envolve a criação de 39.200 empregos diretos e 117.600 indiretos. Somente para operar as sondas, a Sete estima a criação de outras 8,4 mil vagas, além das 25,2 mil indiretas.
Setor de aço é beneficiado

De olho em toda essa oportunidade, as empresas correm com os investimentos. Um exemplo é a Brasco, empresa de apoio logístico da Wilson,Sons. Segundo Renata Pereira, diretora-executiva da Brasco, a companhia, que já opera uma base na Baía de Guanabara, em Niterói, comprou uma segunda unidade, no Caju, por R$ 121,9 milhões. Agora, investe R$ 100 milhões em obras de infraestrutura no local.

— O objetivo é estar preparado para as oportunidades do pré-sal — afirma Renata, lembrando que o estaleiro do grupo passa por ampliação.

Além de aquisições, a estratégia inclui a modernização das fábricas e a aposta em pesquisa. É o caso da Tenaris, que acabou de destinar US$ 180 milhões à compra de prensas de tubos de aço em sua fábrica em São Paulo. Mario Marques, vice-presidente de P&D, diz que o pré-sal precisa de tubos mais resistentes, aptos a resistir ao processo de corrosão devido à grande presença de gás carbônico nos reservatórios. Além disso, investe mais US$ 39 milhões em um novo centro de pesquisa, no Parque Tecnológico da UFRJ, na Ilha do Governador
— O pré-sal demanda muita tecnologia — diz Marques.

O setor de aço é um dos mais beneficiados. Segundo José Adolfo Siqueira, diretor-executivo da Associação Brasileira, da Indústria de Tubos e Acessórios de Metal (Abitam), o pré-sal pode fazer com que o petróleo, que hoje responde por entre 15% e 20% dos 2,5 milhões de toneladas de tubos de aço produzidos no país, chegue a 35% em dez anos.

— Mas isso só será alcançado se o governo conseguir manter a rotina dos leilões. Não pode ter soluço— afirmou.
Bruno Musso, superintendente da Onip, diz que o pré-sal assegura a sustentabilidade das encomendas, criando ambiente propício ao investimento.
— Para o empresário, o complicado é trabalhar em um ambiente de incerteza. O pré-sal dá a garantia de um ciclo permanente de oportunidade. Mas ainda há desafios, como inovação e mão de obra.
DANIELLE NOGUEIRA e BRUNO ROSA, NO GLOBO

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