A área, marcada há mais de 30 anos pelas investidas de grileiros, voltou a ser alvo de ameaças no último dia 17 de janeiro, quando três homens não identificados acompanhados de um oficial de justiça, dois policiais e um chaveiro entraram na área, sem apresentar mandado judicial. De acordo com o agricultor José Oliveira dos Santos, que estava no local no momento da invasão, os policiais estavam armados.
Um dia após a entrada dos estranhos em Areia Grande, no dia 18 de janeiro, a camponesa Maria de Lourdes encontrou perfurações por arma de fogo na sua cisterna de guardar água da chuva. “Quando eu voltei na sexta de manhã a minha cisterna tava toda perfurada de bala, tinha 20 tiros, meu filho quando viu ficou assombrado”, conta a agricultora, que agora vive amedrontada. “O pessoal não quer deixar a gente só, porque se fizeram com a cisterna podem fazer com a gente”.
Cisterna de Dona Maria de Lourdes perfurada com 20 tiros
Um fato curioso é que alguns moradores de Areia Grande foram avisados previamente dos acontecimentos. O apicultor Afonso dos Santos Campos recebeu na sua casa a visita do oficial de justiça de Casa Nova que acompanhou a entrada dos estranhos no dia 17. “Tire suas caixas de lá e venda que os homens vão entrar”, essa foi a advertência que Campos disse ter ouvido. Ainda de acordo com o que o oficial contou a Afonso dos Santos, empresários da região teriam comprado a área para cultivar caju.
Para denunciar os atos de violência, moradores de Areia Grande foram à delegacia de Casa Nova. Apesar dos depoimentos, até nove de fevereiro a área ainda não havia sido periciada. Nesse dia, novas ameaças deixaram os moradores de Areia Grande em alerta. Sob a tutela da impunidade, criminosos atearam fogo em cercas, cancelas e num espaço usado como cozinha durante as reuniões das comunidades que compõem a área de fundo de pasto.
Em Areia Grande, área de terras devolutas do Estado baiano, a impunidade não é de hoje. O assassinato do camponês José de Campos Braga, o Zé de Antero, ocorrido em 2009 ainda não foi esclarecido. O agricultor morreu poucos meses após uma milícia destruir casas e matar criações no local, depois que os empresários Alberto Martins Pires e Carlos Nisan receberam do juiz de Casa Nova, Eduardo Padilha, direito sobre a área. Apontando irregularidades no processo, em 2011 o Tribunal de Justiça da Bahia anulou a sentença.
O apelo comum de quem mora em Areia Grande é para que a justiça seja feita. O presidente da Associação dos Fundos de Pasto de Casa Nova, Zacarias Rocha, insiste para que o Estado regularize a situação dos Fundos de Pasto de toda a Bahia, e que a questão jurídica seja corrigida. “Os crimes têm que serem investigados, esclarecidos e combatidos, que tipo de justiça é essa que tanto pregam e a gente não conhece?”, questiona o presidente.
Mesmo com as ameaças, a população de Areia de Grande vai continuar lutando e persistindo para que um dia a justiça chegue até o território. Quanto mais ameaças sofrem, mais os camponeses e camponesas se unem para defender seu pedaço de chão das investidas de grileiros.
CPT - Juazeiro
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