O ex-embaixador do Brasil em Washington Rubens Barbosa assistiu da calçada milhares de estudantes cruzarem a avenida Faria Lima, em São Paulo, com cartazes de protesto nos quais sobravam críticas ao governo federal. Corria o mês de junho, e Barbosa se divertia francamente:
- Isso vai crescer, comentou o diplomata diretamente identificado com o núcleo dos tucanos paulistas ligado ao ex-presidente Fernando Henrique. De fato, as manifestações cresceram, tomara o país, mas, quatro meses depois, não há motivos em particular para que os tucanos e toda a oposição ao governo continuem a sorrir. O problema, para eles, é que a chamada voz das ruas, na prática, serviu de combustível para dar rumo a um governo que parecia abatido por críticas de vários níveis, do administrativo ao ideológico.
Ainda na primeira semana dos protestos, a presidente Dilma Rousseff chamou para dentro do Palácio do Planalto os jovens do Movimento Passe Livre, que lideraram as primeiras marchas nas maiores cidades do país. Prometeu-lhes dar prioridade à solução de complexas questões de mobilidade urbana, fazendo o que estava ao seu alcance: pediu aos prefeitos das principais cidades para revogarem os aumentos nas passagens de ônibus e dedicando verbas para projetos que considerasse adequados para este fim.
A surpresa, diante do padrão histórico dos políticos brasileiros, foi que Dilma cumpriu à risca o que prometera. Só para São Paulo, semanas depois, soltou mais de R$ 3 bilhões em recursos, que estão permitindo ao prefeito Fernando Haddad abrir centenas de quilômetros de corredores de ônibus, que aumentam o fluxo do trânsito na maior cidade do país. Outras capitais igualmente receberam verbas pesadas, tocando obras à vista da população.
OXIGÊNIO PARA PRIORIDADES
Por este e outros fatores, para os quais até a violência dos black blocs contribuiu, o certo é que as manifestações foram perdendo fôlego – e Dilma começou a voltar a respirar mais livremente. O sopro de oxigênio foi usado por ela na busca de outras duas prioridades. Na típica luta no estilo 'contra tudo e contra todos', a presidente lançou, aprovou no Congresso e acaba de sancionar, na terça-feira 22, o programa Mais Médicos. Inédito do País, ele já resulta na chegada e mais de dois mil médicos estrangeiros aos rincões do Brasil. Sob a oposição de entidades médicas, e contra muitos prognósticos, eles já estão em seus postos e, neste momento, o governo já saboreia pesquisas que mostram altos índices de aprovação para o programa.
Dilma, no entanto, tinha ainda uma prioridade. Disposta a continuar injetando recursos públicos para não deixar a economia esmorecer, apesar de toda a crise internacional, ela apostou no leilão do campo de Libra, colocando sob martelo a maior jazida de petróleo até hoje conhecida no Brasil. Outra vez, a turma do 'vai dar errado' fez coro em todas as frentes possíveis, especialmente na mídia tradicional. E outra vez, como se viu na segunda-feira 21, o 'quanto pior melhor' perdeu suas apostas. No consórcio Petrobras-Shell-Total-CNOOC-CNPC, que pagará um bônus de R$ 15 bilhões à União para explorar o pré-sal naquela faixa, Dilma colheu outra vitória que seus adversários não esperavam. Além de rechear os cofres da União, conseguiu, pelo impacto do resultado, dar nova dose de ânimo na economia, garantindo, na prática, uma virada de ano sem sobressaltos.
Por esses motivos, a presidente experimenta, neste exato momento, seus maiores índices de popularidade. Dilma, que muitos julgaram derrotada pelas ruas no pós-manifestações de junho, retirou de sua cartola soluções que a população, a julgar pelos números, aguardava. O resumo da ópera que é que, de fraca, a presidente tornou-se a peça mais forte do tabuleiro político, chegando a obter resultados em pesquisas que a apontam como reeleita, em 2014, já no primeiro turno, em todos os cenários.
E no início da gestão, dizia-se que a presidente não sabia fazer política...
Brasil 247
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